No dia 20, o governo de Lula declarou estado de emergência em saúde pública na Terra indígena Yanomami. A situação desumana vivida pelos indígenas está sendo noticiada de forma constante nos últimos dias, porém, os abusos e descasos sofridos por esse povo originário não é recente e, nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, tiveram respaldo do governo federal. A tragédia social e humana exposta nesse cenário se verifica porque “nós temos o resultado da implantação de campos de extermínio”, diz o professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP.
Côrtes destaca que os yanomamis tentam denunciar há muito tempo a falta de remédio, de assistência e de comida, além das invasões de garimpeiros ilegais às terras desse povo: “Verificamos que, nos últimos quatro anos do governo Bolsonaro, nós tivemos cada vez mais evidentes os exemplos de uma completa falta de política de assistência social. Essas denúncias dos yanomamis ganham destaque, mas é importante relatar que eles já vêm tentando denunciar toda essa situação há um bom tempo”.
O garimpo ilegal é um dos maiores ameaçadores da vida do grupo yanomami, já que não afeta apenas o meio ambiente, mas também a chegada de suprimentos e de equipes médicas. O Ministério dos Povos Indígenas estima que ao menos 570 crianças morreram devido à contaminação por mercúrio, desnutrição e fome. Em novembro de 2022, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal desenvolveram uma operação contra a fraude na compra de remédios destinados a esse povo; o esquema criminoso deixou mais de 10 mil crianças sem medicamento. Além disso, lideranças indígenas relatam que um incêndio, que destruiu uma unidade básica de saúde, teve como responsáveis os garimpeiros.
Garimpo ilegal
“Não há nada que justifique a existência do garimpo ilegal porque ele se apropria de recursos da União, ou seja, eles extraem isso ilegalmente, desmatando, mudando os cursos dos rios, prejudicando toda a flora e fauna locais e, como se não bastasse isso, durante o processo eles utilizam quantidades expressivas de mercúrio”, comenta Côrtes. O professor ainda compara esses criminosos com os narcotraficantes da Colômbia da época de Pablo Escobar: “São empreendimentos criminosos que, ao dominar determinadas áreas impõem, por meio de milícias com armamentos pesados, as suas próprias regras e as suas próprias leis, impedindo o acesso das pessoas”.
Côrtes faz uma analogia entre os diamantes de sangue, que eram extraídos de regiões de guerra em condições subumanas, geralmente na África, e o ouro encontrado na Terras indígena Yanomami: “É o ouro do sangue. O sangue dos povos originários está sendo consumido nessa exploração totalmente ilegal e que nada beneficia o Tesouro Nacional”. O professor coloca que “já sabe que a floresta em pé vale muito mais do que a floresta arrasada”. E ainda acrescenta: “O que eu temo é que esse seja apenas um trágico exemplo entre diversos outros que devem estar acontecendo no território amazônico”.
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