Ferimento causado por água-viva pode causar insuficiência cardíaca e choque anafilático

De acordo com Fred Bernardes, apesar de parecer uma queimadura, ferimento é, na verdade, intoxicação da pele causada como forma de autodefesa e que leva a essa sensação

 01/03/2021 - Publicado há 3 anos
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Sair do mar é a primeira coisa que um banhista deve fazer ao sentir uma “queimadura”, assim, evitando maiores ferimentos – Foto: Arek Socha via Pixabay – CC
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Mesmo sem ser no verão, todo cuidado é pouco quando falamos de enfermidades causadas por águas-vivas, ou seus parentes próximos, as caravelas. Apesar da pandemia, as pessoas ainda estão indo à praia e o risco de algo neste sentido acontecer acaba aumentando.

Envolta em mistério, a estranha beleza da água-viva é eventualmente esquecida, quando mais um caso de queimadura ocorre, mas, seria, de fato, uma queimadura? De acordo com Fred Bernardes, dermatologista e doutorando do Programa de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, o ferimento causado não é uma queimadura, e sim, um envenenamento da pele provocado pelos tentáculos do animal como forma de autodefesa. “O ferimento causado por águas-vivas e caravelas não é uma queimadura, como muitas pessoas pensam, mas sim uma intoxicação da pele causada pelas toxinas liberadas”, explica.

Cientificamente falando, isso ocorre porque, em seu corpo, há células chamadas cnidócitos que são basicamente feitas para produzir toxinas quando o animal se defende de alguma presa ou ameaça. Essas toxinas não ficam em contato direto com os tentáculos, mas sim dentro de cápsulas chamadas nematocistos. Bernardes comenta que quando acontece um acidente, muitos desses nematocistos ficam íntegros na pele, sem liberar a toxina. Por isso, sair do mar é a primeira coisa que um banhista deve fazer ao sentir uma “queimadura”, assim, evitando maiores ferimentos.

Mas quais efeitos colaterais um envenenamento por água-viva pode causar? Principalmente, reações alérgicas e estas podem levar à insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória, edema de glote e até mesmo choque anafilático. O problema é que, além de serem enfermidades que já causam problemas sozinhas, quando ocorrem dentro do mar, o indivíduo ainda pode se afogar.

Apesar de algumas crenças envolvendo o tratamento, tais como usar urina, ervas ou álcool, e até mesmo passar um limão em cima do ferimento, de acordo com Bernardes, sair da água imediatamente continua sendo o primeiro passo entre os cuidados imediatos que podem ser tomados para cuidar de um ferimentos desses. “Assim que sair da água, a pessoa deve tomar as seguintes medidas: lavar a região com água do mar, no intuito de remover os tentáculos e aliviar a dor, não esfregar o local, pois isso pode romper as estruturas que liberam o veneno, não lavar o ferimento com água natural ou de torneira e usar um objeto como cartão de crédito ou palito de sorvete para remover os tentáculos que ainda estão grudados”, detalha o dermatologista.

Projeto de pesquisa ajuda pescadores ao ensinar medidas educativas sobre a segurança na rotina de trabalho

Quando esteve pelo Rio de Janeiro fazendo especialização em Dermatologia, Bernardes fez um trabalho com pescadores e, como conclusão, uma cartilha foi desenvolvida, o que ainda resultou em um gibi e em uma publicação no International Journal of Dermatology, periódico importante da área de dermatologia.

O projeto, intitulado Saúde do Pescador, reuniu pescadores da Baía de Guanabara e foi elaborado a partir de uma pesquisa epidemiológica. Além de evidenciar medidas educativas voltadas aos trabalhadores locais, a prevenção foi outro grande foco do artigo. O resultado levantado durante a pesquisa revelou, por exemplo, que 82,5% dos entrevistados já haviam tido acidentes com animais aquáticos durante o ato de pesca, entre eles, a água-viva.


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