Favorecido pela disputa entre Venezuela e EUA, Brasil aumenta exportação para o país vizinho

De acordo com Alexandre Ganan, “o Brasil ganhou um novo mercado e uma nova oportunidade quando Caracas passou a buscar alternativas que a tornassem mais independente de Washington”

 05/02/2021 - Publicado há 3 anos
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Os Estados do Amazonas e Roraima bateram recordes de exportação para a Venezuela – Foto: StockSnap / Pixabay

Em 2020, em meio à maior crise econômica desde 1929, os Estados do Amazonas e Roraima bateram recordes de exportação para a Venezuela. O Amazonas, que em 2018 arrecadou US$ 10 milhões com exportação para o país vizinho, em 2020 viu tal valor crescer para US$ 190 milhões. Enquanto Roraima, que já foi o menor Estado exportador brasileiro, faturou, no ano passado, US$ 200 milhões com exportação, sendo mais de 70% voltada para a Venezuela. Além disso, o seu PIB cresceu cerca de 4,3%, enquanto a média brasileira foi de 1,1%.

Sobre esse faturamento econômico, o professor de História, especialista em América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina, Prolam-USP, Alexandre Ganan, explica: “De certa forma, é possível dizer que o Brasil ganhou com a disputa entre a Venezuela e os Estados Unidos, que vem desde a vitória do Hugo Chávez nas eleições de 1998. O Brasil ganhou um novo mercado e uma nova oportunidade quando Caracas passou a buscar alternativas que a tornassem mais independente de Washington”.

O especialista também acrescenta: “A economia venezuelana é muito dependente do petróleo, praticamente gira em torno dele e da sua exportação e esse é um problema, uma das raízes da crise venezuelana atual. A Venezuela tem um mercado consumidor importante e, por conta também da sua economia muito voltada para a extração de petróleo, é carente de importações de todo tipo de gênero. E claro que isso foi um espaço aberto para as empresas brasileiras, que souberam aproveitar e estreitar as relações”.

Potencial comercial na América do Sul

Além disso, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Paulo Feldmann, aponta que, além do bloqueio econômico dos Estados Unidos, o que favoreceu as exportações para o país vizinho foi a grande quantidade de imigrantes venezuelanos vivendo no Estado do Amazonas e de Roraima. “Porque claro, essas pessoas são originárias da Venezuela, têm contatos dentro da Venezuela e acabam ajudando as empresas de Roraima e do Amazonas a fazer negócios lá.”

O lucro obtido com as exportações para a Venezuela também abre espaço para refletir sobre o potencial comercial entre os países da América do Sul. A respeito do bloco Mercosul, Feldmann denuncia: “Qual é o pior bloco sucedido do mundo? É o Mercosul. Quando a gente vê os números, o Mercosul é muito pequeno, o volume de transações dentro do Mercosul é mínimo. Os dois maiores países do Mercosul [Brasil e Argentina] nunca prestigiaram o comércio aqui dentro da América do Sul. Isso é uma idiotice política muito grande. Se nós tivéssemos criado um grupo bem-sucedido, teria sido muito bom para todos. Porque esse comércio entre os países vizinhos é muito saudável, ele capacita os países para saírem pelo mundo vendendo para outras regiões. Como na América do Sul a gente não tem comércio, o que acaba acontecendo é que os países do Mercosul também são muito fracos na exportação para o resto do mundo”.


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