A missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acompanhou as eleições deste ano no Brasil, apresentou uma avaliação preliminar do pleito. Os especialistas internacionais destacaram o papel das chamadas fake news e da violência, com apresentação de recomendações. Entre os aspectos positivos está a organização das eleições diante da dimensão do País e a segurança na urna eletrônica. Para comentar sobre o tema, o Jornal da USP no Ar conversou com a professora Laura Chinchilla, cientista política que presidiu a Costa Rica entre 2010 e 2014, chefe da missão de observadores da OEA, que assumiu a Cátedra José Bonifácio da USP neste ano.
A especialista elogia o sistema eleitoral do Brasil, a maior democracia da América Latina com 147 milhões de eleitores, quanto à sua organização e segurança. A urna eletrônica permite agilidade no momento do voto e na disponibilização dos resultados, além de o País contar com competentes autoridades capazes de administrar o processo eleitoral, completa Laura. Apesar do elogios, a professora ressalta o clima de tensão e grande polarização do momento e classifica as fake news e a desinformação como desafios para o Brasil e a América Latina. O fenômeno tomou grandes proporções no País, com o uso do WhatsApp, uma plataforma com diversos mecanismos de criptografia para proteger a privacidade das pessoas, mas que foi utilizada na disseminação de notícias falsas.
Com o objetivo de promover dentro da Universidade uma reflexão sobre os principais desafios e dilemas enfrentados pela democracia na América Latina, a Cátedra liderada pela professora percebe problemas comuns relativos às eleições dos países da região. Entre eles, o descontentamento da população com os políticos e o sistema, associado aos problemas de crescimento econômico, segurança e corrupção, e a influência de aspectos emotivos no momento do voto, fazendo os eleitores considerarem mais o perfil do candidato do que suas propostas e partido.
O verdadeiro desafio das democracias e da política é formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e responsabilidades, comenta Laura Chinchilla sobre a importância da inserção da análise crítica no ambiente universitário. A professora também destaca que essa discussão deve ser uma constante nas instituições educacionais, desde o período escolar, pois é fundamental que as pessoas aprendam a respeitar os outros e a viver em sociedade, para que a intolerância e a discriminação sejam combatidas.