Expedição científica na Amazônia vai explorar região não conhecida pelo homem

Missão liderada pelo professor Miguel Trefaut Rodrigues, do Instituto de Biociências da USP, tem como objetivo a coleta de animais e estudos sobre uma possível nova fauna

 03/11/2022 - Publicado há 1 ano
Nem os índios ianomâmis, que estão ali naquela naquela região até hoje, subiram no alto desse conjunto de montanhas – Foto: Vinícius Mendonça/Ibama – Flickr CC BY-SA 2.0

Neste mês, será realizada uma expedição inédita à Serra do Imeri, recurso geológico situado no Planalto das Guianas, ao norte do Estado do Amazonas e na fronteira do Brasil com a Venezuela. Herton Escobar, repórter do Jornal da USP que integra o grupo de jornalistas que irão acompanhar a expedição, entrevista o professor do Instituto de Biociências da USP, Miguel Trefaut Rodrigues, que vai liderar a missão de exploração. 

O que será feito?

“Em primeiro lugar, é uma área da Amazônia que nunca ninguém foi”, diz Rodrigues. A região mais explorada é a Baixa Amazônia, e mesmo ela ainda é pouco conhecida. Este que será o local de estudo se localiza em uma região montanhosa, isolada e de difícil acesso. A Serra do Imeri se destaca entre as outras formações geológicas da região, com uma altitude de 2.995 metros. 

Miguel Trefaut Rodrigues – Foto: Reprodução/Fapesp

O professor comenta que “nem os índios ianomâmis, que estão ali naquela naquela região até hoje, subiram no alto desse conjunto de montanhas”. Possivelmente, ela tem uma fauna diferente de qualquer outra que a circunda. Deve estar relacionada com a região do Pico da Neblina, também situada no Planalto das Guianas, a qual mantém relação com a Mata Atlântica brasileira, com os Andes e com os Tepuis (monte em formato de mesa típico desse planalto).

O objetivo da expedição é prospectar uma região que ainda não foi explorada. Para isso, o grupo contará com pesquisadores das mais variadas áreas da biologia: mastozoólogos, botânicos, herpetólogos e parasitologistas, que irão coletar informação o suficiente para estudo e para montar um inventário geral.  

Qual será a logística?

O acampamento no qual a equipe residirá foi montado pelo Exército brasileiro. “Sem o apoio deles, a gente jamais conseguiria fazer isso, porque é uma área extremamente acidentada e de relevo muito íngreme, onde praticamente não tem lugar para pousar”. O único meio capaz de transportá-los é o helicóptero. 

A partir do momento de chegada, os trabalhos começarão de acordo com cada pesquisador: montar armadilhas com baldes enterrados e rodeadas por cercas guias para capturar répteis, anfíbios, mamíferos e invertebrados; redes para coleta de morcegos à noite; redes de neblina para coleta de aves; coleta de plantas durante o dia; coleta de sangue de todos os animais por parte do parasitologista. Dessa forma, voltarão com material para estudo morfológico dos animais. 

A estrutura contará com um laboratório, alimentado por um gerador. Ele serve para experimentos como o de temperatura voluntária máxima, que permite modular qual seria a temperatura máxima que os animais tolerariam em caso da piora do aquecimento global. 

“Vai ser realmente um desafio” 

Por se tratar de um local muito elevado, as temperaturas variam de cerca de 20 graus a zero, muito diferente da Baixa Amazônia, onde as temperaturas atingem a casa dos 30 graus. A expedição vai contar com 14 pesquisadores, três jornalistas, 21 militares in loco e mais 50 que vão servir de apoio em Santa Isabel do Rio Negro.

“Os resultados vão certamente contribuir muito para conhecer melhor a história biogeográfica da Amazônia, embora a gente não tenha a menor ideia do que a gente vai encontrar lá”, finaliza o professor.


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