Pesquisa de intervenção formativa desenvolvida no Estado de Santa Catarina, por meio de observações nas situações de trabalho, análise coletiva do trabalho (ACT), entrevistas individuais e o desenvolvimento do Laboratório de Mudanças, observou que policiais estão adoecendo e perdendo sua vida em decorrência das condições desgastantes de sua labuta diária. Fernanda Zanotti, doutoranda da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, autora da tese, discorre sobre possíveis causas do sofrimento mental de agentes militares na execução de suas funções.
Conforme a pesquisadora, durante o estudo os pesquisadores descobriram que a problemática dos policiais militares vai além dos acidentes de trajeto, foco inicial da pesquisa, e inclui também altos índices de suicídio, sofrimento mental e afastamentos frequentes. Os resultados levaram os pesquisadores a direcionarem o foco para as condições de trabalho nas instituições policiais do Estado catarinense e do País.
Metodologia
De acordo com a doutoranda, a pesquisa empregou o método do Laboratório de Mudanças, uma abordagem finlandesa adaptada no Brasil desde 2010, que visa a dar voz aos trabalhadores e permitir que eles participem ativamente na transformação de suas condições de trabalho. Ela explica que, no Estado de Santa Catarina, essa metodologia de ouvir o lado dos profissionais foi aplicada pela primeira vez no contexto de agentes da Polícia Militar.
Segundo Fernanda, a abordagem empregada no estudo envolveu a realização de visitas informais às unidades da Polícia Militar, seguidas por entrevistas individuais e coletivas com agentes de diversas áreas, desde o comando até a operação ativa nas ruas. Além disso, foram formados grupos de trabalho que discutiram e refletiram sobre suas experiências e desafios para conhecer os problemas reais da profissão e os riscos aos quais estão expostos.
O estudo identificou vários desafios enfrentados pelos policiais, muitos dos quais foram apontados diretamente pelos próprios profissionais. Entre os principais problemas identificados, destacam-se a pressão constante do trabalho e o estresse associado às múltiplas demandas, incluindo situações de violência e crimes. “Nós começamos a receber alertas dos policiais militares sobre casos de suicídio entre eles e isso começou a acender um alerta, porque muitos começaram a abordar esse tema. Quando íamos a outros batalhões, o mesmo tópico persistia e alguns agentes destacavam os níveis de estresse na profissão”, conta.
Soluções
De acordo com Fernanda, mesmo que os profissionais recebam diversos treinamentos para lidarem com as situações de perigo e pressão, o acúmulo de casos acaba afetando e desgastando sua saúde mental. Para enfrentar esses desafios, ela conta que a pesquisa e alguns agentes sugerem a institucionalização de estratégias de enfrentamento e a ampliação dos serviços de saúde mental disponíveis para os policiais.
A atual equipe de saúde, segundo a doutoranda, é considerada insuficiente para atender às demandas crescentes e há uma necessidade urgente de abordar os problemas individuais e os desafios estruturais dentro das instituições. “Nós precisamos ampliar o atendimento, claro que não é apenas o serviço de psicologia e atenção à saúde que resolve todos os problemas; tem uma série de outras situações de trabalho que precisam ser analisadas, os trabalhadores apontaram bastantes contradições que precisam ser olhadas internamente nas instituições para que sejam resolvidas ao longo do tempo”, finaliza.
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