Numa trama digna de um romance policial de John Le Carré, Sergei Skripal, ex-agente russo, e sua filha Yulia foram encontrados inconscientes, no domingo (4) passado, num banco perto de um shopping center em Salisbury (Inglaterra). Enviados em estado grave para um hospital, confirmou-se que ambos foram envenenados por um gás neurotóxico, cuja produção só é possível em grandes laboratórios. O caso remete ao envenenamento, por polônio radioativo, em 2006, do também agente duplo russo Alexander Litvinenko. Em ambos os casos, suspeita-se que o assassinato tenha sido encomendado por Vladimir Putin, razão pela qual foi pedida a reabertura das investigações sobre a morte de Litvinenko e de outros casos semelhantes.
Ao analisar o incidente em sua coluna semanal para a Rádio USP, a professora Marília Fiorillo faz alusões à Guerra Fria, e observa que o envenenamento de Skripal soa como se Putin sentisse nostalgia da União Soviética e estivesse disposto a reerguer e expandir a grande mãe russa. “Será que Putin, China à parte, se tornará o novo homem forte do mundo? É possível. Vale perguntar se a história pode se repetir como farsa”, afirma ela, ao especular sobre a posição do presidente russo diante do caos na Casa Branca e da atual fragilidade da União Europeia. E conclui: “Em nossos tempos de pós-verdade, Putin tem tudo para prosperar”.