Ensino de engenharia por competências gera insegurança

Novas diretrizes curriculares do CNE buscam tornar cursos atraentes, mas têm propostas de ensino vagas

 25/09/2018 - Publicado há 6 anos

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A comunidade acadêmica e científica, representada por 15 entidades nacionais, entre elas a USP, se manifestou preocupada com a proposta de novas diretrizes curriculares para as graduações de Engenharia. A consulta pública para discutir as novas regras, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), já foi realizada. Entre as mudanças criticadas, está a retirada de dispositivos que estabeleciam a carga horária mínima dos conteúdos e disciplinas a serem trabalhados pelos cursos. As entidades destacam que, ao não estabelecer “núcleos de conteúdos gerais”, a nova proposta abre possibilidade para que sejam aprovados cursos de Engenharia sem disciplinas básicas, como matemática, física, química, economia e ciências do ambiente. A última revisão nas diretrizes foi feita há 16 anos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Fabio Cozman, presidente da Comissão de Graduação da Escola Politécnica da USP, falou sobre as diretrizes.

Ele explica que as diretrizes “balizam” todos os cursos nacionalmente. Hoje, há uma grande oferta de vagas, mas muita evasão. O objetivo do CNE é tornar os cursos mais atraentes. A proposta é que a carreira tenha maior número de atividades práticas, organização mais flexível, interdisciplinar e focada em inovação. Segundo o professor, são pontos com que todos se preocupam, mas a questão é que houve pouco tempo de consulta pública. Um dos pedidos no manifesto é de mais tempo para discussão.

Fabio Cozman fala da diferença entre conteúdo e competência. Antes, o currículo escolar era baseado em conteúdos, ou seja, aprendizado de itens. Isso foi mudando em todos os níveis da educação. Por exemplo, no ensino fundamental as diretrizes são baseadas em competências, o mesmo ocorre com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com as competências, a preocupação não é com o ensino de um item ou outro, mas com a formação de habilidades nos estudantes. A comunidade de ensino superior também deseja mudar suas diretrizes para competências. Entretanto, na opinião do professor, as propostas para os cursos de engenharia estão muito vagas. Para ele, o que gera o protesto da comunidade é que, como são competências muito gerais, não fica claro o que precisa ser dado para suprir algumas delas. Existe a preocupação de que, na hora de implantar, alguns cursos fiquem apenas “na conversa”, sem realmente tratar questões importantes como o ensino de matemática e física.

Ele fala sobre interdisciplinaridade. Na opinião do especialista, já existe uma percepção clara que os grandes problemas da engenharia passam por várias áreas e disciplinas, e o bom engenheiro consegue unir seus vários conhecimentos de forma criativa. Na Poli, a revisão curricular foi feita na última década e procurou-se enfatizar a flexibilidade, aumentando o número de disciplinas optativas e tornando o último ano intercambiável em vários conjuntos de disciplinas, chamados de módulos. O aluno pode fazer engenharia mecatrônica e um módulo na engenharia civil se quiser e tiver vagas.

Para o engenheiro, a educação em todos os níveis vive um momento de discussão sobre novas tecnologias. Ele fala sobre as tecnologias de aprendizagem e de gestão, ambas citadas no documento das diretrizes. As tecnologias de gestão dizem respeito à maneira de trabalhar os professores e os cursos. Mas a tecnologia de aprendizagem talvez seja mais importante, pois oferece aulas invertidas (o aluno faz o exercício em aula, com a supervisão do professor), aulas em vídeos, exercícios on-line. Todas essas são tecnologias que a comunidade de ensino está absorvendo. “Eu acho que é uma preocupação de toda a comunidade de ensino e é inevitável porque a tecnologia de aprendizagem evoluiu muito e tem evoluído muito”, complementa.

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