É fundamental planejamento urbano que revalorize os centros e reduza deslocamentos

Para o professor Ricardo Abramovay, é vital que se vincule o deslocamento à moradia, ao emprego, ao lazer e à vida na cidade

 14/02/2022 - Publicado há 2 anos
As alternativas em alta no século 20 aparentavam ter solucionado os problemas de mobilidade, mas mostraram-se ineficientes em diversos pontos – Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil via Flickr – CC

Um dos grandes problemas dos grandes centros urbanos na contemporaneidade é o apartheid territorial presente nas cidades. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Ricardo Abramovay, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, e autor do livro Amazônia: Por Uma Economia do Conhecimento da Natureza, analisa o conceito de desmobilidade. Ao contextualizar a situação, o professor Abramovay indica que “o ponto de partida é a contradição que está embutida na própria ideia de automóvel.

O automóvel tem uma conquista tecnológica que permitiu ampliar de maneira extraordinária a mobilidade humana durante o século 20”, e completa ao dizer: “Só que, a partir da segunda metade do século 20, o carro se transforma numa espécie de seu contrário. Com a compra massiva de carros, a quantidade de veículos era tanta que as pessoas, em vez de terem mobilidade, ficavam presas no trânsito”.

Ricardo Abramovay – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

As alternativas em alta no século 20 aparentavam ter solucionado os problemas de mobilidade, mas mostraram-se ineficientes em diversos pontos. “Não adianta você tentar resolver o problema do transporte focando exclusivamente no sistema de transporte”, afirma o professor. “O século 21 é o século em que a gente renunciou a esse tipo de abordagem fragmentária. Por exemplo, os carros que hoje circulam são altamente emissores de gases do efeito estufa. ‘Ah, então eu vou resolver isso com carro elétrico e com energia limpa’, isso é uma visão fragmentária. O que é uma visão baseada na ciência do século 21, que são as ciências da complexidade, é você vincular o deslocamento à moradia, ao emprego, ao lazer e à vida na cidade.

O planejamento das cidades brasileiras faz com que os centros concentrem as principais oportunidades e serviços, justamente onde moram as pessoas com renda mais elevada e que conseguem pagar mais caro nos domicílios da região. Enquanto isso, “o restante da população vai se espalhando nas periferias, que são espécies de subcidades, ou seja, onde não há serviços, escolas de qualidade, muitas vezes não há sequer serviços bancários, serviços médicos, e para qualquer coisa importante, inclusive para o lazer, ela tem que fazer grandes deslocamentos”, comenta Abramovay.

Ao indicar possíveis ações a serem adotadas para reverter essa situação, o professor relaciona São Paulo a Paris e reflete sobre a mentalidade necessária para as grandes cidades: “É fundamental um planejamento que esteja voltado a esse objetivo estratégico — revalorizar os centros e reduzir deslocamentos penosos —, é nisso que consiste o conceito de desmobilidade”. Para Abramovay, “é necessário que haja serviços públicos, de cultura, de lazer, trabalho, escola e saúde de maneira descentralizada em uma cidade como São Paulo. Isso é uma imensa oportunidade de geração de renda e de criação de empregos de qualidade”.

Para entender mais sobre o assunto, acesse o artigo do professor Ricardo Abramovay no link a seguir: https://ricardoabramovay.com/2022/02/mais-do-que-carros-eletricos-precisamos-mesmo-e-da-desmobilidade-urbana/

 


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