Com a grave situação das contas públicas, o próximo presidente terá de tomar, logo nos primeiros 100 dias de governo, 36 decisões consideradas urgentes na área orçamentária. O mapeamento das resoluções foi feito pelo Ministério do Planejamento como parte da transição para o próximo mandato. Para comentar sobre a situação econômica do Brasil, o Jornal da USP no Ar conversou com o professor Fernando Botelho, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
O especialista avalia que o Brasil passa por um momento muito grave na questão econômica. O País possui um déficit primário, ou seja, pagam-se os juros assumindo outro endividamento. O quadro mostra que as dívidas correspondem a cerca de 77% do PIB brasileiro, realidade capaz de piorar ainda mais a crise, completa. A incerteza do mercado não permite que decisões sejam tomadas pelas empresas, afirma o especialista. Ele esclarece que é impossível retomar a economia diante desse cenário, pois a confiança entre o investidor e o mercado é ponto fundamental e precisa ser retomada.
É notável uma maior transparência sobre o assunto pelos candidatos à Presidência, segundo Botelho. Porém, o tema é tratado com propostas extremistas, que amenizam a gravidade do problema ou apresentam uma resolução utópica. O necessário é estabelecer uma solução compatível com um tempo realista e razoável que impeça o crescimento da dívida. O professor também explica que, quando a dívida pública aumenta e o processo inflacionário começa a surgir, o Banco Central tem dificuldade em combater a inflação. O aumento de juros agrava o problema fiscal e a perda do controle da política monetária, o que pode culminar em um processo inflacionário elevado e recorrente.
Botelho ressalta a importância da comunicação entre a atual equipe econômica e a dos principais candidatos à Presidência. A articulação permite que, com o presidente eleito, políticas sejam encaminhadas ainda em 2018. A iniciativa de realizar ajustes para manter a capacidade fiscal do Estado é essencial para preservar a população mais necessitada. Para isso, o professor diz ser preciso cortar os privilégios das partes que têm consumido todos os recursos arrecadados pelos impostos de uma forma insustentável, priorizando as maiores preocupações dos brasileiros: um sistema de saúde razoável, a melhora da educação e o reforço da rede de proteção social das camadas mais empobrecidas da sociedade.