“Diálogos na USP”: a relevância e o futuro das universidades públicas

As professoras Nina Ranieri e Roseli de Deus Lopes falam sobre a importância científica e social da universidade pública para o Brasil

 24/05/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 24/06/2019 as 9:41
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As universidades públicas são as grandes responsáveis pela produção científica brasileira. Foi isso o que apontou um relatório da organização Clarivate Analytics, disponibilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes. Esse relatório trata de pesquisas científicas realizadas no País entre 2011 e 2016. Das 20 instituições brasileiras com as maiores produções, 15 são universidades federais e cinco estaduais.

Entre elas estão as três universidades estaduais paulistas – USP, em primeiro lugar, Unicamp e Unesp – além das universidades federais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas gerais, entre outras. Além disso, as universidades públicas estão entre as mais bem classificadas da América Latina em rankings mundiais.

Nada disso, porém, pesou para que, quase ao mesmo tempo, o Ministério da Educação cortasse – ou, eufemisticamente, “contingenciasse” – 30% do orçamento das universidades federais, congelasse bolsas de pesquisa, e que a Assembleia de São Paulo criasse uma CPI para investigar as universidades paulistas.

Afinal, a universidade pública e gratuita está sob ataque? Por quê? Qual o seu valor e importância para a sociedade?

Para responder a essas perguntas sobre a importância da universidade pública no Brasil, o Diálogos na USP recebeu as professoras Nina Ranieri, professora do Departamento de Direito do Estado, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e coordenadora da Cátedra Unesco de Direito à Educação, também da Faculdade de Direito, e Roseli de Deus Lopes, professora do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, responsável pela concepção e viabilização da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), onde atua como coordenadora geral e diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC.

 

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Nina Ranieri admitiu estar preocupada com a situação das universidades, tanto públicas quanto privadas. “No mundo inteiro, cada vez mais se exige prestação de contas, que as universidades mostrem para a sociedade o que estão fazendo”, afirmou. Esse é um dos grandes motivos para o sucesso dos rankings universitários, que “traduzem, de forma simplificada, o que as universidades estão produzindo, ainda que esta tradução não seja acurada, pois visa a objetivos mais mercadológicos do que propriamente avaliar as atividades acadêmicas”.

Roseli Lopes destacou o ataque ideológico que vem sendo enfrentado pelas universidades, mas que isso “está servindo para as instituições demonstrarem tudo o que está sendo feito”, numa tentativa de aproximação com a sociedade. “Precisamos transmitir em uma linguagem que seja compreensível para o leigo. O foco de quem está na universidade é fazer suas produções científicas, mas, além disso, precisamos comunicar o quanto que estamos contribuindo para a melhora da qualidade de vida das pessoas”, disse.

Nina disse acreditar que cobrar mensalidade dos alunos não é algo que teria efeito, já que “tradicionalmente não cobrem mais do que 10% dos orçamentos das universidades de pesquisa”. A professora também destacou que não é porque alguns alunos pagaram mensalidades, no ensino básico, que podem fazer o mesmo na universidade. “Existe uma pesquisa, feita pelo Ancelmo Gois, do jornal O Globo, utilizando os critérios de bolsas governamentais, que mostra que apenas 15% dos alunos das federais teriam condições de pagar”, afirmou.

Roseli  também se mostrou contra a ideia de cobrar mensalidade. “Quando a gente vai para estudos mais profundos, vemos que não é uma questão de cobrar ou não mensalidade, mesmo as pessoas que teriam condições de pagar já pagam impostos”, relembrou a professora. Por fim, ela também destacou a importância econômica das universidades públicas, ressaltando que “quatro das seis empresas unicórnios no Brasil foram criadas por estudantes da USP. Isso nos faz questionar qual é o preço da ignorância? Qual é o preço do investimento na educação?”.

Acompanhe a íntegra do programa pelos links acima.


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