Embora a situação de refugiados no Brasil e no mundo tenha ganhado visibilidade na mídia nos últimos anos, ainda é difícil para boa parte da sociedade compreender as razões que levam essas pessoas a deixar suas casas e tentar a vida em países, muitas vezes, com culturas e línguas muito diferentes das suas. O resultado dessa desinformação acaba se refletindo no preconceito contra esses estrangeiros. No segundo episódio do especial do USP Analisa sobre esse tema a docente da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, Cynthia Soares Carneiro, e a jornalista autora do blog Caminhos do Refúgio, Géssica Brandino, falam sobre os direitos de quem solicita refúgio no Brasil, a acolhida a essas pessoas e a onda nacionalista que tem se expandido em vários países.
Géssica conta que a falta de informação sobre os refugiados que chegavam ao Brasil foi o que a levou a criar o blog Caminhos do Refúgio, ao final de sua especialização em Jornalismo Internacional na PUC-SP. “Existe uma dificuldade para quem pesquisa sobre refúgio em identificar a porta onde você vai conseguir informações sobre esse tema. Minha ideia foi justamente ter um site que falasse sobre meu trabalho de pesquisa e conectasse, ajudasse a criar pontes para instituições que fazem esse atendimento. É uma página com a função principal de ser uma porta, um canal para que pesquisadores consigam conectar as instituições, além de saber o básico sobre direitos dos refugiados, como é esse acolhimento e algumas notícias que eu tive a oportunidade de produzir sobre o tema, mesmo depois da conclusão do meu trabalho”, conta a jornalista.
Cynthia destaca a importância de iniciativas como essa, já que até 2012 não existiam informações ou sequer dados estatísticos sobre a situação dos refugiados no Brasil. “A partir de 2012 é que começa, nas universidades, a organização de grupos de pesquisa. Hoje existe inclusive o OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), que, em parceria com o antigo Ministério do Trabalho, começou a sistematizar esses dados. Mas não é importante ter só números, é justamente dar voz para essas pessoas, mostrar quem são. E, principalmente, lembrar que eles estão refugiados, não são refugiados. Porque as pessoas pensam: ‘Ah, mas são oportunistas?’ Não, eles vieram em uma situação de risco e o que eles mais sonham é poder voltar para suas casas, é poder ver seu país reconstruído e poder voltar para suas raízes, para suas memórias, quando isso é possível”.
Este é o último da temporada 2019. A partir da próxima semana, será exibida uma seleção com os melhores episódios do ano que se finda. A temporada 2020 começa no dia 5 de fevereiro.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto.