Desindustrialização diminui espaço do Brasil na economia mundial

País deveria investir em tecnologia nas áreas de bioengenharia e genética para se desenvolver, diz professor

 29/04/2019 - Publicado há 5 anos
Por

jorusp

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Montagem sobre foto de Jim Makos/Flickr/CC

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Levantamento do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostra que a participação do Brasil na economia global atingiu o pior nível em 38 anos. Em 2018, a fatia do País na produção de bens e serviços globais foi de 2,5%, sétima queda anual seguida. A maior marca deste século foi atingida em 2011, quando o Brasil representava 3,1% do total. De lá para cá, no entanto, não parou de cair. O pico da participação brasileira nos setores foi em 1980, quando detinha 4,4%. O resultado fez com que o País perdesse o posto de sétima maior economia global, mantido desde 2005, para a Indonésia. De acordo com as projeções do fundo, o Brasil deve perder espaço nesse quesito pelo menos até 2024, quando a parcela do País na economia mundial recuará para 2,3%.

“Todos os grandes produtores e compositores da macroeconomia, Estados Unidos da América, China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, têm uma indústria muito forte. Quem produz milho e minerais são os países sul-americanos e africanos”, analisa o professor Paulo Feldmann, do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. O administrador aponta que, nos últimos 30 anos, aconteceu uma desindustrialização muito forte, o Brasil foi na contramão do desenvolvimento. “Depois do consenso de Washington, em 1989, coincidente com o governo Collor, processo liderado pelos norte-americanos, no qual estimulou-se a investir somente nas áreas já competitivas da produção, o País desistiu de uma política industrial”, diz.

Os países asiáticos, segundo o docente, não seguiram essa direção. “Mesmo os países menores, como Cingapura, Taiwan, Vietnã, têm um crescimento expressivo nos últimos anos. Importam matéria-prima da gente e vendem produtos manufaturados para nós”, esclarece Feldmann. Ele argumenta que, se continuar nessa toada, a paralisia econômica brasileira segue até 2023, talvez 2025.

Sete milhões de pessoas entraram na linha da pobreza nos últimos três anos. A renda per capita de hoje está no mesmo nível de 2012 e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na faixa de 1% significa estagnação. “Aprovando a Previdência a economia não vai crescer. A reforma resolve o déficit do governo, mas não cria emprego. Não apenas 13% da população está desempregada, como outros 6% dela, conformada com a situação, não procura emprego. O nível de desocupação está perto dos 20%”, declara Feldmann.

O professor afirma, de qualquer maneira, que ainda há tempo. O Brasil precisa de uma política industrial e de planejamento. “Com apoio ao setor secundário, investindo na formação de recursos humanos de elevado nível técnicos e adaptando nossas vantagens às demandas do mercado, o País pode dar a volta”, explica. O futuro da tecnologia hoje está na bioengenharia e na genética. As áreas de vegetação brasileira abrigam ¼ da biodiversidade do mundo, “uma riqueza a ser explorada”, comenta o professor.

Fora isso, o governo nacional pode olhar para o passado. Feldmann compara duas políticas industriais já desenvolvidas no Brasil. Deu errado a da informática, que instaurou uma reserva de mercado, mas não formou profissionais capacitados. A da Aeronáutica, por sua vez, contou com a criação do Instituto de Tecnologia Aeronáutica, um dos centros tecnológicos de ponta no campo, resultando no sucesso da Embraer e na construção de aeroportos. “Sem planos, o Brasil não cresce no século 21”, afirma Feldmann.

jorusp


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