Desconfiança da política afasta jovens do alistamento eleitoral

Para Adrian Gurza Lavalle, isso se transforma em um incremento do desinteresse do eleitorado jovem e, consequentemente, na queda daqueles que decidem antecipar o seu registro eleitoral

 09/11/2021 - Publicado há 2 anos
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Arte por Rebeca Alencar com imagens de Tribunal Superior Eleitoral e Flaticon

A Constituição Federal brasileira estabelece que jovens maiores de 16 e menores de 18 anos podem participar das eleições. O voto dessa faixa etária é facultativo, mas sua participação é estimulada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em campanhas como a “#EuVotoPorque”. Para as eleições de 2022, adolescentes com essa idade terão até maio para fazer o seu alistamento eleitoral.

A possibilidade para que jovens de 16 a 18 anos possam participar das eleições foi estabelecida na Constituição de 1988, em um contexto de redemocratização após a ditadura militar. Para o professor Adrian Gurza Lavalle, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, essa oportunidade aberta pela legislação é “positiva, do ponto de vista de que é desejável que os jovens com inclinação à política precoce tenham condições de participar da vida política do País, requisitando o seu título eleitoral”.

A escolha de um jovem em se alistar ou não para as eleições pode depender de diversos fatores, e a história mostra algumas tendências. Após o impeachment do presidente Fernando Collor, a participação de jovens em cartórios eleitorais entrou em queda, indo de 3,2  para 2,1 milhões entre 1992 e 1994. Nas eleições de 2020, caiu pela metade o número de eleitores com 17 anos quando comparamos com os números de 2016.

Com isso, Gurza acredita que a desconfiança que a população em geral pode ter sobre a política acaba afetando o estímulo de jovens ao alistamento eleitoral: “Isso também se transforma em um incremento do desinteresse do eleitorado jovem e, consequentemente, na queda daqueles que decidem antecipar o seu registro eleitoral”. Hoje, há outro fator que pode influenciar a vontade de jovens em se alistar ou não em cartórios eleitorais: o da informação. Com a chegada da internet e das redes sociais, seu acesso ficou mais difuso, já que nem sempre é controlado. 

A forma como o eleitor decide o seu voto deixou, em certa medida, de ser mediada por órgãos como a imprensa. “Isso aumenta extraordinariamente a variabilidade das coisas às quais o eleitor tem acesso, o que aumenta o peso de informações com pouco valor, como as fake news”, afirma Gurza, lembrando que esse não é um fenômeno encontrado somente entre jovens e que essas distorções não são suficientes para impedir o voto facultativo de adolescentes.

Segundo o último levantamento da Justiça Eleitoral, há quase sete milhões de eleitores entre 16 e 20 anos de idade. Desses, 687.381 emitiram seus títulos eleitorais facultativamente, porque têm menos de 18 anos. Acomodar todo esse contingente no regime democrático depende de um processo educativo. “Seria desejável que, como parte da formação escolar, fosse feito um trabalho sistemático de valorização da democracia, que demonstrasse para os jovens o valor das instituições democráticas”, conclui Gurza.


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