Descoberta sugere recuperação rápida da vida após maior evento de extinção em massa da história

Descoberta de fósseis na China sugere que ecossistemas marinhos se recuperaram mais rapidamente do que se imaginava após a maior extinção em massa da história do planeta Terra, revela estudo publicado na “Science”

 27/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Meio ambiente – Foto: Freepik – Fotomontagem/Jornal da USP
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Em um artigo publicado na revista Science, pesquisadores da Universidade Chinesa de Geociências descobriram um ecossistema marinho complexo que teria existido apenas um milhão de anos após a maior extinção em massa do planeta Terra.

Conhecida como “a mãe de todas extinções” ou até mesmo a “Grande Morte”, essa extinção resultou no desaparecimento de 95% da vida marinha e 70% da vida terrestre. Contudo, seu nome científico é a extinção do Permiano-Triássico, alcunha que faz alusão aos dois períodos geológicos que são divididos por um evento que ocorreu 250 milhões de anos atrás. Seu impacto teria sido tão profundo que, até recentemente, cientistas estimavam que a vida teria demorado cerca de 5 a 10 milhões de anos para se recuperar.

Max Langer – Foto: Lattes

Segundo Max Langer, paleontólogo e professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, essa extinção teria ocorrido devido a um efeito em cascata iniciado por uma grande erupção vulcânica onde hoje fica a Rússia. “Quando você tem uma grande quantidade de atividade vulcânica, você tem mudanças de grande escala, especialmente atmosféricas. Gases estufa são liberados em grande quantidade, partículas levam à redução da entrada de luz solar na terra e outros gases tóxicos geram coisas semelhantes a chuvas ácidas”. A combinação de fatores teria levado à extinção de quase toda a fauna e flora do planeta.

No entanto, em escavações na região de Guizhou, os pesquisadores da Universidade de Geociências ficaram surpresos com a complexidade do ecossistema recém encontrado, cuja análise indicou uma recuperação mais rápida da vida do que se imaginava. “Até você recuperar uma diversidade como a encontrada nos depósitos chineses, estimava-se uma demora maior. Então a complexidade do ecossistema foi medida não tanto pelo número de espécies que se encontrou, mas por ser mais do que em teoria deveria existir naquela época”, explica o professor, que não participou do estudo.

Langer afirma que, para determinarmos com exatidão a idade desse ecossistema, foi realizada uma datação radioisotópica. “Com base nos isótopos que são encontrados nessas rochas, conseguimos uma datação bem mais precisa. O que é diferente das datações mais antigas que utilizavam simplesmente o conteúdo faunístico e florístico, então você pode identificar efetivamente que essa fauna viveu um milhão de anos após a extinção do Permiano-Triássico.”

A vida como conhecemos hoje

De acordo com o especialista, o planeta Terra, antes dessa extinção, era completamente diferente de como o conhecemos hoje. Até mesmo os dinossauros, comumente associados com um longínquo período da pré-história, são mais recentes do que os seres vivos que existiram no Permiano. “Tínhamos alguns precursores dos mamíferos e dinossauros, mas nada que se assemelhe muito com qualquer organismo que conhecemos hoje em dia. Na verdade, a fauna moderna, incluindo mamíferos, se originou justamente após esse evento de extinção.” Segundo o pesquisador, foi a “Grande Morte” que possibilitou a evolução e difusão da vida que identificamos atualmente.

Para os cientistas, a existência desse ecossistema exemplifica a resiliência da vida no planeta Terra. A “Grande Morte” foi capaz de deixar boa parte do planeta inabitada, porém, em um espaço de tempo geologicamente curto, ecossistemas já floresciam com novas formas de vida, sugeriu o novo artigo.

Hoje em dia, “o ser humano pode estar criando uma nova extinção em massa devido à liberação de gases estufa e outros poluentes. Porém, uma lição que a ‘mãe de todas extinções’ ensina é que mais de três quartos da vida podem ser extintos, mas em relativamente pouco tempo ela se recupera”, comenta ele. Para o professor, somos nós que corremos o risco de uma nova extinção. “O que o ser humano pode fazer não vai ser talvez um quinto do que aconteceu na extinção do Permiano-Triássico. O que é motivo para preocupação são as eventuais consequências para a própria espécie humana”, alerta.


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