O turismo foi muito impactado pela pandemia de covid-19. Segundo dados do Ministério do Turismo, a crise sanitária causou uma redução de 60% no faturamento do setor. Entretanto, com o avanço da vacinação, a diminuição do contágio e a reabertura das fronteiras, os turistas voltam a planejar suas viagens.
Mariana Aldrigui, professora no curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, afirma que, em 2020, os viajantes habituais deixaram de gastar esse dinheiro, criando uma espécie de poupança de turismo. Agora, essa poupança volta a ser investida. “Quando chega 2021, a gente tem a perspectiva da vacinação e as pessoas fazendo viagens de vingança, ou seja, uma viagem do ‘eu mereço e estou me vingando da pandemia’”, conta Mariana.
Esse movimento contribui com a retomada do setor, mas a pesquisadora alerta que ele não é definitivo. Ela também ressalta que o Brasil passa por um momento de crise econômica e alta da inflação, o que deve prejudicar essa recuperação. “A partir do mês de novembro, com tanta gente disposta a viajar, os preços vão subir”, diz. “A gente tende a ter uma alta temporada lotada e cara.”
Para aqueles que planejam viajar em breve, Mariana tem algumas recomendações: “Não deixe para a última hora, porque, além de ficar caro, pode ser que não tenha nada; leia as cláusulas de cancelamento e reembolso, as empresas modificaram isso para a melhoria, é mais fácil fazer uma reserva hoje e cancelar próximo da data”.
Ela também aconselha a inclusão de um seguro-viagem que cubra a saúde, para evitar imprevistos. “Por mais que represente uns 3% a mais no orçamento da viagem, é uma dor de cabeça imensa a menos.”
Retomada e tendências
Uma pesquisa feita pelo Expedia Group aponta que fatores como segurança e procedimentos de limpeza e desinfecção estão entre os mais considerados pelos turistas na hora de escolher um destino. Segundo a professora, o setor já está preparado para essa demanda. “O tempo em que basicamente não havia clientes foi dedicado a muita pesquisa e adaptação”, diz.
Apesar da busca por segurança, é esperado que essa preocupação diminua durante a viagem. Empresas de transportes, hotéis, restaurantes e destinos precisarão ser firmes para reforçar a necessidade dos cuidados como distanciamento e uso de máscara.
A pesquisa também aponta como tendência o turismo ecológico e sustentável. Entretanto, viagens para esses destinos costumam ser mais caras, o que pode influenciar negativamente a decisão. “Não dá para ser otimista demais e [afirmar] que isso vai virar o grande produto”, avalia Mariana.
Para a pesquisadora, a pandemia poderia ter sido aproveitada para planejar e repensar as políticas públicas voltadas ao setor. “Era um tempo muito valioso de estudo e investimento em qualificação e tecnologia e isso não foi feito.”
“A gente tem uma tarefa na gestão pública de organizar o espaço, trabalhar a qualidade para o morador e para o visitante e comunicar isso efetivamente para que as pessoas de qualquer distância possam vir”, acrescenta Mariana. Ela afirma que a imagem do Brasil no cenário internacional está manchada como um destino ambientalmente irresponsável e pouco comprometido com os cuidados sanitários. A mudança dessa imagem demandará grande esforço.
A pesquisadora ressalta a importância econômica e defende um turismo mais consciente. “A gente tem sete milhões de brasileiros empregados no setor e que precisam das pessoas viajando e consumindo nos destinos, então que a gente faça boas escolhas e que possamos ir para locais onde nosso dinheiro vai mudar a vida das pessoas. Que a gente faça gastos mais responsáveis, claro, tendo muito prazer e diversão.”
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