Crise dos combustíveis deriva de erros do governo federal

Redução dos impostos e investimentos em biodiesel são algumas das soluções apontadas por especialista

 25/05/2018 - Publicado há 6 anos

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Em um território dependente do transporte rodoviário, como é o Brasil, uma greve dos caminhoneiros trava o funcionamento de serviços essenciais, gerando importantes impactos na população. As consequências do desabastecimento dos postos de gasolina já estão sendo sentidas em todo o País. Pedro Luiz Côrtes, professor no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, lembra que, ainda que a paralisação acabe, deve levar cerca de uma semana para que a normalidade seja restabelecida.    

Côrtes avalia que a situação atual deriva de uma sucessão de erros do governo federal. Para começar, não foram previstas as possíveis consequências de uma elevação da cotação internacional do barril de petróleo. Não foi pensada uma política tarifária que considerasse essa possibilidade. Agora, a Petrobras sozinha não consegue bancar a diferença há um ano, o barril estava cotado a US$ 40; hoje, o preço ultrapassa os US$ 70. O impacto chegou ao bolso do consumidor.   

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil via Fotos Públicas / CC BY-NC 2.0

Além disso, o governo federal não se antecipou ao movimento, afirma o professor. De fato, situações internacionais que influenciam o preço do petróleo, como o conflito entre Estados Unidos e Irã, fogem do controle do Brasil. Mas ele lembra que o Serviço Nacional de Informações deveria ter monitorado a situação e informado o governo da possibilidade de deflagração de greve no País. Se o informe foi feito, talvez os responsáveis não tenham dado a devida importância a essa possibilidade, completa.

Côrtes conta que, a partir de um projeto que está em tramitação no Senado e de um acordo firmado na quinta-feira com lideranças do movimento dos caminhoneiros, o governo federal pretende desembolsar R$ 5 bilhões até o final do ano, em um esforço de contenção da alta do diesel. Ainda nesse sentido, nesta sexta-feira uma reunião levantará a possibilidade de unificação da alíquota do ICMS, que hoje é diferente em cada Estado.

Pensando na resolução do problema, Côrtes aponta algumas alternativas. A redução dos impostos é um instrumento polêmico em um sistema que valoriza a livre flutuação dos preços. Para o professor, porém, é uma medida necessária em um país que sente tanto medidas que afetam o sistema rodoviário. Além disso, Côrtes alerta para a necessidade de investir no biodiesel. Trata-se de um combustível de fonte renovável, ambientalmente positivo. Sendo o Brasil um país com tantas possibilidades de transporte aquático, o investimento em cabotagem também é desejável, conclui o professor.  

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

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