Crise de representação é ponto comum em impasses internacionais de 2019

“Falta de sintonia entre o que governantes fazem e o que governados esperam é causa das manifestações populares”, diz Amaral Júnior

 19/12/2019 - Publicado há 4 anos

Grandes manifestações de rua, guerra comercial entre China e Estados Unidos, ativismo pelo clima por parte dos jovens e governos impondo obstáculos ao combate às mudanças climáticas na 25ª Conferência do Clima (COP25). O ano de 2019 foi marcado por embates. Para o professor Alberto do Amaral Júnior, da Faculdade de Direito (FD) da USP, a crise de representação é o ponto comum desses fenômenos. A população não encontra no Estado “um instrumento capaz de encaminhar e solucionar crises”, declara ao Jornal da USP no Ar.

As multidões que ocupam as ruas, em especial, são indicativas dessa “falta de sintonia entre o que os governantes fazem e o que os governados esperam”, diz o jurista. As manifestações ocorrem tanto em países democráticos como em autoritários. Em Hong Kong, a aspiração por mais democracia e liberdade, além do temor do domínio chinês, movem os revoltados. No Chile, os manifestantes, apesar do sucesso econômico após o fim da ditadura de Augusto Pinochet, reclamam por justiça social e contra a desigualdade. 

Foto: Carolina Caires

Especialista em direito internacional, Amaral Júnior afirma que pautas caras à sociedade, como a defesa do meio ambiente, não avançaram em 2019. Antes um líder nas pautas climáticas e de preservação da biodiversidade, o Brasil uniu-se à Arábia Saudita, Austrália e Estados Unidos para bloquear avanços na COP25, em Madri. Países insulares perderam a disputa para oficializar relatório sobre o aumento do nível do mar, ocasionado pelo derretimento das calotas polares, como diretriz no combate às mudanças climáticas.

Enquanto isso, os jovens encabeçam a resistência pelo clima. A ativista Greta Thunberg foi eleita a pessoa do ano pela revista britânica Times. A Greve Global pelo Clima teve vários focos em todo o mundo. No Brasil, ocorreu no dia 22 de setembro. Reclamações sobre as queimadas e o vazamento de petróleo nas praias do Nordeste deram o tom. Assim, o País é pressionado a contribuir nesse cenário de “duelo entre gerações presentes e futuras”, segundo o professor.

Amaral Júnior explica que 2019 deixou maus indícios para países em desenvolvimento, como o Brasil, que perdeu influência com sua nova diplomacia. O boicote de Donald Trump à Organização Mundial do Comércio (OMC) abre precedentes para que as relações comerciais se pautem em poder político e prestígio econômico. De acordo com o jurista, as regras são preferíveis às nações periféricas, já que diminuem as incertezas, e no mínimo conferem algumas garantias.

O protecionismo era um dos pilares da campanha de Trump em 2016. O presidente norte-americano realmente cumpriu sua promessa ao taxar produtos externos para priorizar a produção de seu país. No conflito comercial com a China, o Brasil foi beneficiado no curto prazo pela abertura de mercados no agronegócio. Entretanto, o especialista esclarece que, no longo prazo, as cadeias produtivas globais serão afetadas. “O aumento do protecionismo diminui a criação de empregos, gera maiores imprevisibilidades. Crises devastadoras são cogitadas”, alega.

Ouça a entrevista na íntegra no player acima.


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