Criptomoeda como moeda oficial representa avanço para a economia, mas requer cuidados

Pequeno país da América Central, El Salvador é o primeiro país do mundo a adotar o bitcoin como moeda oficial

 24/06/2021 - Publicado há 3 anos
Muitos países estão estudando e fazendo testes para terem suas próprias criptomoedas – Arte: Jornal da USP

 

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Uma notícia pegou o mundo financeiro de surpresa no início de junho deste ano. El Salvador, o pequeno país de 6,5 milhões de habitantes na América Central e que tem o dólar americano como moeda oficial, é o primeiro país do mundo a adotar oficialmente uma criptomoeda como moeda corrente em seu território. A partir de agora, os salvadorenhos e as instituições podem fazer transações oficiais, usando as duas moedas.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, afirmou que a ideia é aumentar o dinamismo da economia e tornar o país mais atrativo para investidores. Além disso, o presidente destacou que o bitcoin permitirá que os salvadorenhos que vivem no exterior enviem dinheiro aos amigos e familiares no país de maneira mais fácil e prática. El Salvador é extremamente dependente das remessas de dinheiro dos salvadorenhos que moram em outros países. Tanto é, que a moeda oficial do país é o dólar americano.

O que são criptomoedas?

A criptomoeda é um tipo de dinheiro, com as mesmas funções que as moedas que circulam ao redor do mundo. A diferença, neste caso, é que as criptomoedas são totalmente virtuais, sem emissão física pelos bancos centrais. Além disso, com o bitcoin – principal moeda virtual – é possível transferir fundos de uma conta para outra sem precisar de um terceiro para realizar esta tarefa.

Criptomoeda – Foto: Flickr

O conceito de criptomoeda surgiu em 1998, quando Wei Dai, renomado engenheiro de computação, sugeriu usar a criptografia para controlar a emissão e as transações realizadas com um novo tipo de dinheiro, o que dispensaria a necessidade da existência de uma autoridade central, como instituições privadas ou governamentais, assim como acontece com as moedas convencionais.

O professor Marcelo Botelho, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, garante que muitos países estão estudando e fazendo testes para terem suas próprias criptomoedas e que “é natural que haja um processo de digitalização da moeda”. Exemplo disso é o que vem acontecendo nas últimas décadas com as contas bancárias e os meios de pagamento eletrônico, como o PIX, recentemente instaurado no Brasil.  

Conta Botelho que cada vez mais criptomoedas devem surgir no mercado, mas, para o governo de um país, “é importante ter controle da sua base monetária, facilidade de uso, controle e verificação da economia”. Para economias maiores e mais complexas, a emissão de moedas faz parte da política monetária do governo e é uma maneira de atuação sobre a economia.

Problemas para implantação

Especialista no assunto, Botelho afirma que a medida é um grande avanço para a economia, mas ressalta que as criptomoedas não são tão fáceis de serem utilizadas como meio de pagamento. É porque existe um custo de transação, em que é preciso pagar uma pequena fração da moeda virtual em cada transação feita. O custo, então, não é tão baixo quanto, por exemplo, as moedas convencionais, que são emitidas pelo Banco Central de um país.

Outra dificuldade para as criptomoedas ainda estarem longe de serem adotadas como única moeda oficial de um país é a não universalização do acesso à internet. A digitalização da moeda só é possível com acesso a formas de armazenamento e transação da criptomoeda, o que implicaria ter um dispositivo, como computador ou celular, com acesso à internet, “o que dificulta um pouco o acesso das camadas mais baixas da população”.

Segurança de dados

Em tempos de violação de dados e de ação cada vez mais fortes de hackers, as criptomoedas parecem ser ilhas de segurança no mundo virtual, já que contam com uma tecnologia – conhecida como blockchain – que é extremamente segura, garante o professor. Além disso, outros aspectos estão sendo aperfeiçoados para aumentar o nível de segurança, criptografia e a redução do consumo de energia.

Apesar de ser uma tendência e ser uma operação segura, o professor ressalta que é preciso tomar cuidados, assim como em transações convencionais. “Da mesma maneira que há um cuidado com o cartão e a senha bancária, também é preciso ter cuidado com os meios onde serão armazenados os dados e códigos de acesso a essas criptomoedas.”

Por: Robert Siqueira e Ferraz Junior


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