Crescimento do streaming modifica o consumo de produções audiovisuais

Para o professor Rubens Rewald, a lógica das plataformas já está consolidada e o streaming é algo que chegou para ficar

 20/04/2022 - Publicado há 2 anos
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A liberdade e a autonomia são diferenciais proporcionados pelo streaming – Foto: frepick
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Os serviços de streaming têm se popularizado mundialmente nos últimos anos. Diversas plataformas foram lançadas e alteraram a dinâmica de consumo de filmes e séries em todo o globo. Tanto no Brasil como no mundo, a ascensão das plataformas vem provocando mudanças no ambiente de consumo e produção audiovisual. Isso pode ser visto na prática. Em 2022, foi a primeira vez que um lançamento do streaming venceu a categoria de melhor filme do Oscar. O longa Coda (No Ritmo do Coração) fez história ao ser a primeira produção distribuída por um serviço de streaming (Apple TV+ nos EUA, Prime Vídeo no Brasil) a ganhar a principal estatueta da noite.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o roteirista, diretor e professor do curso superior de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes da USP, Rubens Rewald, analisa a explosão do consumo de streaming.

De acordo com o professor, há alguns anos os serviços vêm se expandindo de forma considerável: “As pessoas, através do streaming, têm acesso a um grande volume de produtos audiovisuais, que até então não tinham acesso, principalmente em termos de séries”.

Rubens Rewald – Foto: Reprodução

Alguns fatores, como o declínio das locadoras, influenciaram no aumento da relevância das plataformas. “A fisicalidade foi caindo de moda e cada vez mais aumentou o consumo de produtos digitais. Então, as pessoas perderam o hábito de ir em locadoras e de comprar DVDs e o streaming, de um certo modo, supria um pouco esse hábito”, comenta Rewald.

Além disso, o consumo de séries também foi determinante na visão do professor: “Até uns dez anos atrás, o longa-metragem ainda era o produto audiovisual mais consumido, as séries vêm ocupando espaço, principalmente nas gerações mais novas, e o streaming, por natureza, supre muito bem esse consumo de séries. O DVD, você tem que comprar uma caixa e no streaming não, você não ocupa espaço de armazenamento”.

A liberdade e a autonomia são diferenciais proporcionados pelo streaming. “Foi também ocupando o consumo em relação às TVs de acesso aberto e fechado, porque, com o streaming, você pode assistir ao produto a hora que você quiser,  já nas TVs, você é um pouco sujeito à grade, ao horário que as emissoras decidem passar. Então isso, para gerações mais novas, foi determinante”, afirma Rewald.

Impactos da pandemia

Alguns fatores, como o declínio das locadoras, influenciaram no aumento da relevância das plataformas – Foto: Souvik Banerjee – Pixabay

 

Conforme o professor, a pandemia de covid-19 também influenciou: “Esse aumento do consumo de streaming em detrimento das outras formas de consumo audiovisual já vinha aumentando, a pandemia foi determinante, porque a pandemia juntou tudo isso. Você tinha que ficar em casa, você não ia mais ao cinema, então o streaming nadou de braçada. É muito difícil, a partir do momento que você adquire um hábito, voltar a hábitos anteriores. Então, agora que os cinemas estão voltando, os números de cinema ainda estão muito inferiores àqueles de antes da pandemia. A não ser grandes blockbusters como Batman, Homem-Aranha, que daí o espetáculo da tela grande ainda é o espetáculo. Então, esses grandes produtos de consumo de cinema ainda têm um glamour, mas, tirando isso, é muito difícil”.

Apesar do elevado número de produções, Rewald alerta ao dizer que o streaming também limitou. A padronização de conteúdos e o interesse pela venda fazem com que obras não convencionais e alternativas percam espaço. “Inegavelmente filmes mais de risco, como se chamavam os filmes de autor ou filmes de arte, estão atravessando um período muito difícil, as pessoas estão perdendo o hábito de ir ao cinema. Já vinha diminuindo o público progressivamente, a pandemia foi muito dura, principalmente os cinemas que tinham esse nicho mais adulto, menos juvenil. Então, se você vai hoje ao cinema que passa um filme europeu ou um filme mais investigativo, mais de risco, você vê um público mais envelhecido, você não vê um público jovem”, atesta.

Lógica estabelecida

Para o professor, o streaming já está consolidado. “Eu acho que hoje você não mede mais o sucesso comercial de um filme pelo número de espectadores no cinema, mas também pelo número de espectadores no streaming e na televisão. O cinema já não é mais a principal janela, isso é uma realidade que a gente vive hoje em dia. [O streaming] É uma realidade já consolidada, a um custo bem inferior na TV a cabo. A TV a cabo, além de tudo, tinha um problema não só excludente pelo aspecto do poder aquisitivo, mas também tinha muitos lugares em que nem chegava. O streaming também tem suas dificuldades, porque ele depende de uma boa internet, mas isso aparentemente é mais possível de atingir um espectro maior da população.”


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