O coral-sol é uma espécie exótica que tem se alastrado pela costa brasileira, responsável por um dos maiores casos de bioinvasão marinha já registrados. Ele foi acidentalmente introduzido aqui no Brasil, na década de 1980, incrustado em plataformas de petróleo, chegando inicialmente na ilha Grande (RJ). Atualmente, a espécie ocupa de forma descontínua cerca de 3 mil km da costa.
A espécie está presente em nove dos 17 Estados litorâneos do Brasil. Além de ocorrer em ambientes naturais do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia e em substratos artificiais em Sergipe, foi identificada também em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, em estruturas artificiais (principalmente naufrágios).
Oriundo do Indo-Pacífico, o coral-sol tem causado problemas à biodiversidade marinha, principalmente por sua capacidade de proliferação superior às espécies de corais nativas do Brasil. Isso faz com que ele se alastre rapidamente, diminuindo o espaço disponível para as espécies nativas, ocasionando a morte de algumas delas — sendo que os recifes de corais abrigam a maior parte da diversidade existente no ambiente marinho.
“Monocultura” de coral-sol
“O que pode acontecer é esses ambientes costeiros virarem uma ‘monocultura’ [de coral-sol]”, segundo Kátia Capel, bióloga marinha e pesquisadora do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da USP. O próprio mergulho recreacional, que atrai a população pela diversidade de peixes, corais e outros animais, pode ser afetado pela presença majoritária dessa espécie. “São coisas que ainda estamos vivenciando. Mas, com certeza, a longo prazo, tem potenciais impactos para a vida da população em geral.”
A bioinvasão também afeta a diversidade da fauna de peixes que visita a região, o que poderia no longo prazo possivelmente também afetar a pesca. Áreas com grande abundância de coral-sol mostraram ter uma comunidade menor de invertebrados (como esponjas, as águas-vivas, caranguejos) e mudanças na paisagem marinha do ambiente já foram observadas — de um substrato marinho arenoso a um de cascalho grosso. “Isso muda toda a fauna de macroinvertebrados ali”, pontua a pesquisadora.
Controle principal por manejo manual
Os vetores de dispersão do coral são vários, desde plataformas marítimas, monoboias a substratos como lixo marinho (já foram encontradas larvas do coral em plástico e chinelos Havaianas, por exemplo). Em casos onde o alastramento está no começo, ainda é possível contornar a situação. A identificação mais recente foi no Rio Grande do Norte, em fevereiro deste ano, e já foram feitas primeiras operações para manejo e controle da invasão em uma ação conjunta.
“Em alguns lugares, como na Ilha de Búzios, em São Paulo, que tem paredões com 100% de cobertura, o esforço que seria necessário para erradicar o coral-sol desse local é inviável. Não se consegue mais”, conta a bióloga. Nesses casos, a única ação tomada é o controle manual.
Em âmbito federal, existe o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-Sol no Brasil desde 2018. Ele tem como objetivo geral prevenir a introdução do coral-sol em áreas sem ocorrência, erradicar novos focos e conter as invasões. Segundo Kátia, as medidas aos poucos estão sendo tomadas. “O Ibama tem buscado esse tipo de regulamentação, para controlar a dispersão, principalmente em vetores associados à exploração de petróleo.”
Ela reforça a necessidade de conhecer bastante sobre a biologia do grupo: como acontece a dispersão, o que o transporta, quais são os vetores de introdução. “Daí vamos conseguir desenvolver metodologias ou políticas públicas, regulamentações que visem a evitar a ocorrência de novas introduções”, afirma a pesquisadora.