Consumo de produtos de luxo não é afetado pela crise da pandemia

Mais de 14,5 milhões de pessoas poderão ser lançadas na pobreza caso tenham alteração de renda; consumidores de produtos de luxo devem ser os menos afetados

 22/10/2020 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 29/10/2020 as 15:42
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O mercado global de luxo deve ter queda de vendas entre 20% e 35% este ano, segundo pesquisa da Bain & Company realizada em maio, apesar de 46% dos consumidores de produtos de alto padrão não terem sofrido qualquer alteração de renda durante a pandemia, como informa levantamento da Hibou. Em contrapartida, cerca de 14,5 milhões de pessoas poderão ser lançadas na pobreza caso tenham queda de 20% na renda ou no consumo, consequência da crise econômica causada pelo novo coronavírus, conforme estudo divulgado pela BBC News e realizado por pesquisadores da Inglaterra e Austrália junto ao Instituto Mundial das Nações Unidas para a Pesquisa Econômica do Desenvolvimento.

O professor Miguel Hemzo, do curso de Marketing da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica que os consumidores de luxo são pessoas que possuem motivações diferentes para adquirir produtos de alto padrão. Desde consumidores por status até aqueles que encaram o luxo como rotineiro. Esse mercado é movido pelo poder aquisitivo e, apesar da pandemia ter afetado a maioria da população, os consumidores de luxo, normalmente integrantes de um grupo detentor de maior renda, são menos prejudicados: “[Este] período de pandemia é uma grande crise mundial onde temos a queda de renda de praticamente todas as classes sociais. A diferença é que, se você pensar em classes mais altas, elas podem fazer uma série de ajustes e cortes sem realmente perder o acesso ao luxo”.

A população de baixa renda é geralmente a mais afetada pelas crises econômicas, principalmente os jovens em busca do primeiro emprego e as pessoas com menor qualificação. Os baixos salários fazem com que as crises sejam sentidas de forma drástica e levam, inclusive, à obrigatoriedade de cortar produtos considerados essenciais, compartilha o professor Luciano Nakabashi, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão Preto: “Os salários dessas pessoas já são muito baixos, então, quando cai a renda, o impacto acaba sendo muito mais forte”.

Já a renda dos consumidores de luxo varia desde US$ 70 mil dólares até a casa dos bilhões. Geralmente são pessoas dependentes de salário que ocupam cargos de liderança, médios ou grandes empresários. A depender do nível de renda, alguns adeptos dos produtos de alto padrão podem ser pouco afetados por crises econômicas, diferentemente da maioria da população. O professor Hemzo ainda comenta que cerca de 66% dos brasileiros ganham até R$ 2 mil e aproximadamente 30% recebem acima desse valor. No Brasil, é considerado que apenas 2% da população consome luxo, portanto, “de 200 milhões de habitantes, mais ou menos 1 milhão de pessoas são as que têm poder aquisitivo para estar nesse mercado”.

 


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