Combate à violência sexual e de gênero evolui na Universidade

Apesar de inúmeros obstáculos, a institucionalização de canais de denúncia configura um avanço

 12/03/2019 - Publicado há 5 anos
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jorusp

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O enfrentamento da violência sexual e de gênero está sendo assíduo no debate público. Práticas, antes naturalizadas, estão sendo questionadas na busca por respeito, dignidade e, principalmente, equidade social. Em 2015, na USP, foi criada a Rede Não Cala, por iniciativa de 200 professoras e pesquisadoras, com o objetivo de oferecer acolhimento aos membros da Universidade que passam ou passaram por situações de violência sexual e de gênero. Além da rede, outras iniciativas foram desenvolvidas, tendo em vista o mesmo fim, como a Comissão de Enfrentamento da Violência Sexual e de Gênero do Instituto de Psicologia (IP) da USP.

O Jornal USP no Ar conversou com as coordenadoras da Comissão do IP, professora Vera Paiva, do Departamento de Psicologia Social, e professora Patrícia Izar, do Departamento de Psicologia Experimental, para entender melhor o funcionamento da iniciativa, além de buscar um panorama sobre o combate à violência sexual e de gênero no âmbito da Universidade.

Foto: Divulgação/Brunos Bildverkstad AB

Antes de tudo, cabe compreender que a temática não é uma novidade. “Fui aluna da USP nos anos 70, voltei como professora e esse assunto [violência sexual e de gênero] sempre cercou a vida, especialmente das mulheres”, conta a professora Vera Paiva. Para a docente, a novidade está no tratamento que as instituições estão dando para a questão. “Diversas instituições, do Ministério Público à OAB, passando pela universidade, decidiram enfrentá-la no âmbito institucional.” Evidente que esse movimento de institucionalização é resultante do acúmulo de lutas e mobilizações, como da própria Rede Não Cala.

Apesar dos avanços, os obstáculos são numerosos, indo da dificuldade em se fazer uma denúncia até a deslegitimação da vítima. A professora Patrícia Izar explica que, em decorrência de um longo histórico de silenciamento, muitas vítimas sentem-se acuadas no momento de realizar as denúncias. “Ainda há uma desconfiança em tentar caminhos institucionais de denúncias, ou alguma forma de reparação. Mas acredito que estamos abrindo esse caminho. Isso é fundamental para criar alguma forma de apoio para quem sofre esses casos de violência.”

Outro grande entrave no avanço dessas questões é a naturalização de noções nocivas sobre feminino e masculino. A professora Vera Paiva enfatiza que essa violência não pode ser aceita como parte da natureza, sendo necessário entendê-la como algo socialmente construído. “O fato de mais mulheres terem coragem de realizar denúncias faz com que outras sejam estimuladas a não aceitarem essa violência como algo natural”, esclarece a professora sobre alguns avanços observados.

A Comissão de Enfrentamento da Violência Sexual e de Gênero foi criada para acolher as denúncias envolvendo membros do Instituto de Psicologia: alunas, alunos, servidores docentes e não docentes. Isso não quer dizer, entretanto, que denúncias envolvendo indivíduos externos ao IP não serão aceitas. A comissão opera com diferentes canais de comunicação, incluindo um canal anônimo, via e-mail. Há, também, um evento de apresentação para os ingressantes no início do ano.

Por fim, a professora Vera Paiva destaca que existem inúmeros tipos de violência, como a desqualificação intelectual, bastante comum no âmbito universitário, a depreciação da capacidade profissional, agressão moral e psicológica e a falta de apoio institucional.

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