Censo em comunidades vizinhas à USP busca entender as demandas locais

Atividade da Cátedra Olavo Setúbal do Instituto de Estudos Avançados busca dados nos jardins São Remo e Keralux para dimensionar as necessidades da comunidade

 18/01/2019 - Publicado há 5 anos
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jorusp

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Os moradores de três comunidades vizinhas aos campi da Universidade de São Paulo (USP), na cidade de São Paulo, terão, em breve, um vasto conjunto de informações para que possam planejar e reivindicar ações que promovam sua qualidade de vida, o acesso a direitos básicos e serviços públicos de qualidade e a melhoria da infraestrutura urbana. Esses dados serão obtidos por um censo no Jardim São Remo (ao lado do campus no Butantã, Zona Oeste) e no Jardim Keralux (ao lado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, em Ermelino Matarazzo, Zona Leste). Os recenseadores serão 20 estudantes  da USP — todos moradores ou ex-moradores de periferias paulistanas. Até julho, eles entrevistarão um responsável de cada residência e estabelecimento comercial das três comunidades. Através do censo será feita a coleta de diversos dados que permitirão caracterizar e dimensionar as demandas específicas da comunidade.

A atividade é comandada pela Cátedra Olavo Setúbal, parceria entre o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP com o Itaú Cultural. O Jornal da USP no Ar conversou com Eliana Souza Silva, ativista social, educadora e diretora da Redes da Maré — ONG que atua no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro — e titular da cátedra. “Esse censo nasceu de uma demanda da USP depois de entender um pouco a relação que a USP oferece para as favelas do entorno. Nasceu da demanda de tentar entender quem são essas pessoas, como elas vivem, o que elas fazem… No primeiro momento tem um interesse da Universidade de se aproximar para entender como essas pessoas vivem, na perspectiva de se engajar num processo de mudanças necessárias para mudar a vida dessas comunidades e, ao mesmo tempo, ouvindo moradores, instituições e movimentos sociais que atuam nelas e tentar entender as demandas e ver como elas podem ser atendidas.”

Favela São Remo – Foto: Jorge Maruta/USP Imagens

Eliana  afirma que o objetivo do censo é um dos deveres da universidade em retribuir para a sociedade com pesquisa acadêmica, contribuindo, essencialmente, para os moradores dessas comunidades. O censo ocorrerá por etapas: primeiro, levantamento dos dados domiciliares — em que os alunos irão de porta em porta; a segunda parte será uma verificação de empreendimentos econômicos com fins lucrativos — para entender a atividade econômica das comunidades; a terceira é um outro levantamento, mas para as instituições sociais sem fins lucrativos — como ONGs. Há ainda o apontamento de quantas atividades culturais são desenvolvidas nos bairros e, por último, mapear coletivos e iniciativas que tenham um cunho comunitário. “A gente tem um conjunto de dados de questões a serem levantadas e que vai acontecer a partir do envolvimento de alunos de graduação, mestrado e doutorado”, explica a titular da cátedra.

A educadora diz que é preciso desvincular a relação de estranhamento entre academia e comunidade, pois, quase sempre, a primeira enxerga a segunda sob olhares deturpados por preconceitos. “Existe muito o estranhamento por meio de uma visão homogênea sobre as periferias e favelas, num geral, e isso a gente vê expresso nas falas das pessoas que estão na Universidade. Muitas vezes, pautadas em questões de violência e coisas que não correspondem ao que efetivamente são essas comunidades.” Por outro lado, como aponta Eliana, é perceptível que o estranhamento com a Universidade, no caso da São Remo, se dá por conta do afastamento reforçado nos últimos anos por meio de barreiras físicas.

 

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