Em um cenário global marcado por mudanças climáticas e esgotamento de recursos naturais, a transição para sistemas energéticos sustentáveis se torna uma das maiores necessidades dos tempos atuais. Sob essa perspectiva, o professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, explica que a integração do estudo da transição energética nos cursos superiores emerge como uma prioridade, pois reflete a importância dessa temática na formação dos engenheiros do futuro.
Conforme o docente, a educação em engenharia precisa se adaptar para enfrentar os desafios impostos pela crise ambiental e, ao mesmo tempo, aproveitar as oportunidades que surgem a partir disso. A transição energética, que envolve a mudança do paradigma de fontes fósseis para modelos sustentáveis e renováveis, não se limita a uma questão tecnológica, pois abrange também inovações, políticas públicas e considerações econômicas, com um componente educacional crucial.
Preparação acadêmica
Para que os futuros engenheiros estejam bem preparados, Caneppele conta que os currículos devem incorporar uma visão ampla, dotando-se de temas como tecnologias de energia renovável, estratégias de sustentabilidade e eficiência energética. Ele afirma que esse paradigma implica transformação na abordagem educacional, adotando um modelo multidisciplinar que combine conhecimentos técnicos com ciências ambientais, gestão de projetos e políticas públicas.
Para o especialista, a inovação tecnológica, especialmente em energias renováveis como solar e eólica, armazenamento de energia e redes inteligentes, deve ser integrada de forma substancial nos programas acadêmicos. Ele enfatiza a importância de incluir projetos práticos e estudos de caso, além de promover parcerias com a indústria energética, uma vez que essas práticas são essenciais para enriquecer a formação dos estudantes com experiências reais, preparando-os para os desafios do mercado de trabalho.
“O relatório anual da Agência Internacional de Energia Renovável, o Irena, de 2023 reforça essa perspectiva, ao informar que o setor de energias renováveis empregava cerca de 13,7 milhões de pessoas globalmente em 2022, com um aumento significativo de postos de trabalho”, comenta.
Desafios
No entanto, a integração da transição energética na educação de engenharia apresenta desafios consideráveis e, para Caneppele, é fundamental promover abordagens educacionais que estimulem o pensamento crítico, a inovação e a multidisciplinaridade. A atualização constante dos programas de estudo e a capacitação do corpo docente são obstáculos a serem superados para que a formação se mantenha relevante frente às rápidas mudanças do setor.
Apesar das dificuldades, as oportunidades são vastas. O docente conta que a demanda por profissionais qualificados para projetar, implementar e gerenciar sistemas energéticos renováveis está em ascensão, oferecendo um leque de possibilidades para os graduandos. Além disso, é vital garantir que a transição energética seja justa, atualizando e capacitando os profissionais que atuam no setor energético tradicional para que possam se requalificar em novas tecnologias, assegurando sua continuidade no mercado e contribuindo para a transição.
Segundo Fernando de Lima Caneppele, a transição justa implica criar oportunidades equitativas no novo paradigma energético, minimizando disparidades e assegurando que todas as classes sociais tenham acesso igualitário aos benefícios da mudança. Ele afirma que a incorporação do estudo da transição energética nos cursos de engenharia é mais do que uma necessidade acadêmica, porque consegue preparar os futuros profissionais no momento de liderar a mudança rumo ao mundo energético sustentável.
“A formação de engenheiros preparados para esse desafio é fundamental para um futuro sustentável e justo. Ao equipar os estudantes com conhecimentos, habilidades e uma mentalidade voltada para a sustentabilidade, a educação desempenha um papel fundamental na formação de agentes capazes de enfrentar os desafios energéticos e climáticos do século atual”, afirma.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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