Candidatos à Prefeitura de São Paulo não priorizam área ambiental, diz professor

Pedro Luiz Côrtes comenta sobre os principais projetos apresentados e lamenta falta de maior foco no controle de emissão de poluentes

 06/11/2020 - Publicado há 3 anos

Desde a década de 1970, existe a tendência de migração das oportunidades de emprego em São Paulo do centro para a região sul. Um Levantamento da Fundação Sead mostra que 64% dos empregos formais estão na zona sul, enquanto 36% das pessoas com empregos formais residem na zona leste. Isso gera a necessidade de deslocamento via transporte público ou por outras alternativas de mobilidade urbana, e acaba ocasionando problemas como congestionamentos e até mesmo poluição do ar.

O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, analisa em entrevista ao Jornal da USP no Ar as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo a respeito da mobilidade na cidade. Ele considera que, de maneira geral, as ideias são “contemporâneas, com a utilização e integração de diferentes modais”, mas que ainda deixam de lado a questão ambiental e de saúde pública atrelada à emissão de poluentes por veículos.

As propostas abrange,m o transporte público, com ideias que vão desde a implementação de uma “Tarifa Zero”, para desempregados e estudantes, à manutenção dos preços ao longo dos próximos quatro anos. Motoristas de aplicativos também foram inclusos nos planos de algumas candidaturas, que defendem a garantia de direitos trabalhistas para esses profissionais, e outros que pretendem aumentar o pagamento das empresas de aplicativos para a manutenção do sistema viário da cidade.

Também se discute a implementação de semáforos integrados a sistemas inteligentes, sinalização sonora para facilitar a travessia de pessoas com deficiência visual e a ampliação de ciclovias. Em relação às bicicletas, algumas propostas incluem bicicletários públicos e até mesmo um sistema público de aluguel de bicicletas para atender ao paulistano fora das áreas nobres. Côrtes conta que outro ponto interessante foi a proposta de “educação no trânsito, com a promoção de campanhas de conscientização, inclusive nas escolas municipais, e também promover uma requalificação de funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)”.

Em relação a projetos que visem à redução da necessidade de deslocamento, o professor se decepcionou. Apesar do foco positivo em descentralizar a oferta de empregos, oferecendo vagas mais próximas às casas dos empregados, e oferecer mais opções de educação e lazer nas periferias, “nenhuma proposta fala no incentivo ao home office como uma forma de reduzir os deslocamentos na cidade e, consequentemente, reduzir a poluição do ar e melhorar a qualidade de vida. Não está previsto qualquer incentivo a esse tipo de opção, mostrando – nesse ponto – uma dissonância completa com a realidade”, explica.

Além disso, a questão da emissão de poluentes é “praticamente desconsiderada”, segundo Côrtes, uma vez que, mesmo com uma frota de 8 milhões de veículos, “o controle da poluição veicular é mencionado somente em duas propostas (em uma delas, sendo exclusivo para a frota de ônibus)”. Por fim, outra crítica é que algumas candidaturas não especificam de onde viriam os recursos necessários para implementar projetos como a Tarifa Zero, que exigiriam investimentos do governo.

Para saber mais, ouça a entrevista na íntegra.


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