Briga com dados sobre Amazônia facilita boicotes internacionais

Pedro Luiz Côrtes questiona: “Se o agronegócio não pode ser culpado por queimadas, quem pode?”

 30/08/2019 - Publicado há 5 anos
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Queimadas na Amazônia continuaram no foco da mídia internacional. Depois de muita discussão retórica, o governo resolveu agir no combate às queimadas e a Polícia Federal está tentando identificar e punir culpados. Por outro lado, começaram os boicotes aos produtos brasileiros por empresas estrangeiras. Essa é uma situação que ainda parece longe de se resolver.

 “O governo ficou em um exercício de retórica sobre a necessidade de pedidos de desculpas. Parecia uma discussão infantil. Na prática, não se tem verificado um esforço para reverter possíveis boicotes que começam a acontecer”, alega o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e que também leciona no Procam – Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto  de Energia e Ambiente (IEE), ao Jornal da USP no Ar.

O especialista levantou dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre os dias 18 e 22 de agosto, foram 62.335 focos. Entre os dias 25 e 29, 40.454, uma diminuição. Porém, de 25 a 29 de agosto de 2018, ocorreram 28.759, aumento de cerca de 41%.

De primeiro de janeiro até agora, aconteceram 689.696 focos. No mesmo período do ano passado, foram 297.052. Um aumento de aproximadamente 132%. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, havia justificado o fenômeno com as secas. Contudo, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) fez estudo mostrando que, neste ano, choveu em mais dias do que em 2018 em cinco de seis Estados pesquisados (Acre, Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia).

Neste cenário, o Brasil foi ameaçado de sofrer boicotes, não só no acordo Mercosul-UE, mas também em âmbito comercial. A maior produtora de salmão do mundo, a Mowi, anunciou que estuda interromper a compra de soja do Brasil por causa da situação na Amazônia. A Nestlé não falou em deixar de fazer negócios no País, porém anunciou que deverá reavaliar as práticas de seus fornecedores de subprodutos de carne e cacau da região amazônica. Outra empresa, a VF Corp, que detém marcas de calçados como Timberland, Kipling e Vans, decidiu suspender a compra de couro brasileiro.

“Alguém do governo parece que continua brigando com os dados e vai ter dificuldades em explicar isso a importadores europeus, que podem boicotar produtos brasileiros”, aponta Côrtes. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que as barreiras não se justificam, pois o agronegócio não pode ser culpado por queimadas. O docente questiona “quem pode ser culpado?”.

Côrtes declara que parte dos agricultores e pecuaristas é muito responsável. “Mas tem uma banda podre que contamina todo o setor. Se não podem ser todos responsabilizados, quem pode?”, questiona. Por isso, a necessidade de fiscalização de órgãos eficientes e com independência, como Inpe e Ipam. A ministra Tereza Cristina vai na contramão. “Há histeria na imprensa brasileira para falar mal do Brasil. É um crime lesa-pátria que se comete”, declarou, enquanto andava pela Expointer no Rio Grande do Sul.


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