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A proposta do Brexit, a polêmica saída da Grã-Bretanha da União Europeia, já passou por vários percalços. Os termos negociados pela primeira-ministra Theresa May foram negados três vezes pelo Parlamento britânico e não há perspectiva de acordo. Já são dois anos de impasse. Com a discussão ainda em aberto, questiona-se, inclusive, a permanência de Theresa à frente do governo.
Entre idas e vindas de datas para a efetiva saída da Grã-Bretanha, o que fica também são perguntas. Afinal, como o Brexit pode afetar a União Europeia? O que isso pode inspirar outros países a tomarem a mesma medida? A Itália, liderada por partidos de direita, já acenou com a vontade de seguir os passos britânicos. É uma possibilidade real?
Para falar sobre Brexit e União Europeia, o Diálogos na USP recebeu os professores Umberto Celli Junior, professor titular de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP em Ribeirão Preto, e Kai Enno Lehmann, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, especialista em Política da União Europeia.
Kai Lehmann relembrou que “o chamado do plebiscito não teve nada a ver com o lugar do Reino Unido na União Europeia, mas com uma tentativa de David Cameron de administrar as tensões de dentro do Partido Conservador”. Desta forma, todo o processo “não foi feito com um pensamento sobre o que poderia acontecer caso o plebiscito indicasse uma preferência pela saída”.
Umberto Celli disse acreditar que “o Reino Unido sempre teve um sentimento diferente daquele que tem prevalecido nos últimos anos nos outros Estados membros”. A ideia de se separar do bloco teria aflorado no plebiscito, pegando o governo britânico de surpresa. “Acho que o Cameron não esperava que este plebiscito pudesse resultar em algo favorável à saída da União Europeia, e muito menos que em tão pouco tempo ele seria apeado do poder”, afirmou o professor.
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Lehmann destacou o declínio no apoio ao Brexit, relatando que “a ideia de sair completamente da União Europeia hoje em dia tem menos seguidores do que há três anos”. O professor também apontou para o crescimento de discursos de líderes europeus contra o bloco: “Alguns dos líderes mais nacionalistas, como o Orban, na Hungria, falam muito contra a integração europeia, mas, por outro lado, não pensam em deixar o mercado único da União Europeia pela dependência econômica”, disse Lehmann.
Para Celli, a questão da identidade nacional foi deixada de lado enquanto o bloco prosperava economicamente. “A política nacionalista se fortalece à medida que os resultados da economia não são bons”, afirmou. O professor também ressaltou a presença do processo de globalização na União Europeia, favorecendo os países com maior poderio econômico. Para ele, “a globalização criou um sistema injusto, provocou desemprego e perda de indústrias, ou seja, não entregou o resultado que era esperado. Isso tudo acaba favorecendo esses sentimentos nacionalistas e movimentos anti-imigração”.
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O Diálogos na USP tem apresentação de Marcello Rollemberg, produção da Editoria de Atualidades do Jornal da USP e da Rádio USP e trabalhos técnicos de Rafael Simões.