Acompanhe a entrevista do professor Marcelo Urbano Ferreira, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ao jornalista Fabio Rubira:
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Divulgado recentemente, um relatório anual da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o controle da malária alerta que a doença permanece como um grave problema de saúde pública na África Subsaariana. O documento indica que as mortes, em consequência da doença, caíram 30% desde 2010, mas, em 2015, ainda morreram no mundo 429 mil pessoas. Os países com taxa de mortalidade mais alta são Nigéria e República Democrática do Congo, mas Moçambique e Angola também preocupam as autoridades sanitárias.
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O Brasil, ainda segundo a OMS, registrou progressos no combate à malária, informação com a qual concorda o professor Marcelo Urbano Ferreira (Departamento de Parasitologia do ICB-USP) em entrevista ao jornalista Fabio Rubira. “O Brasil registrou, em 2015, o menor número de casos de malária dos últimos 35 anos”, afirma ele. Entre 2000 e 2015 houve uma redução de mais de 75% dos casos da doença, o que faz com que o País tenha cumprido um dos objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU (Organização das Nações Unidas), que propunha para aquele período uma redução de pelo menos 75% dos casos de malária em todo o planeta. Hoje, o Brasil tem cerca de 140 mil casos anuais, número bem inferior – apenas para efeito de comparação – aos, aproximadamente, 600 mil casos contabilizados no começo do século.
Apesar desses números positivos, o professor Urbano Ferreira acredita que o País não pode pisar no freio em relação ao controle dessa e de outras doenças infecciosas. Quando se obtém sucesso no controle e o número de casos cai, há a percepção, por parte dos gestores da área de saúde, de que o problema está deixando de ser tão importante quanto no passado e de que, portanto, já não merece tanta atenção. “Por isso, na hora de disputar recursos públicos, certas doenças acabam sendo menos privilegiadas do que outras, quando o raciocínio deveria ser o contrário”, observa Urbano Ferreira. Quando um país se aproxima da redução drástica de uma determinada doença, os investimentos públicos aplicados em seu controle, até a sua erradicação total, deveriam ser mais cruciais, “ou se perde todo o trabalho feito ao longo de anos”.
O professor alerta a respeito de o risco que o Brasil corre com a recente aprovação da PEC 55, que limita os gastos públicos. Ele teme que ocorra um “desinvestimento” em saúde pública, o que colocaria em risco o trabalho de toda uma década no controle da malária, a exemplo do que já aconteceu na Venezuela e no Peru.
Para Urbano Ferreira, o Brasil não tem as ferramentas perfeitas para o controle da malária. Segundo ele, o que o Ministério da Saúde faz é investir na prevenção, no diagnóstico e no tratamento precoces da doença. Nesse aspecto, está se dando bem – mais da metade dos casos na Amazônia foram tratados precocemente, “uma façanha, quando se considera tratar-se de uma doença essencialmente rural na Amazônia brasileira”.
Nas grandes cidades, os agentes de saúde geralmente deparam-se com casos importados da malária, ou seja, indivíduos que se infectam em outros países e acabam transmitindo a moléstia nos grandes centros urbanos, onde nem sempre os médicos têm experiência suficiente para fazer o diagnóstico. Ocorre que, quando o diagnóstico eventualmente é feito, já é tarde demais, e o paciente acaba morrendo em decorrência de complicações da doença. Como é comum entre tantas outras moléstias, um diagnóstico rápido pode, nesse caso, fazer a diferença entre a vida e a morte.
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