Brasil atinge recorde de 14,8 milhões de desempregados

“A palavra que melhor descreve a situação atual do mercado de trabalho é excitação. Não dos trabalhadores, que estão procurando ou gostariam de voltar a trabalhar, mas dos empregadores”, diz Hélio Zylberstajn

 02/06/2021 - Publicado há 3 anos
A atual taxa de desempregados expõe cenário desesperador do mercado de trabalho – Foto: Jeso Carneiro – Flickr
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De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgados pelo IBGE, a taxa de desemprego no Brasil subiu 14,7% no primeiro trimestre de 2021 e atingiu o recorde de 14,8 milhões de brasileiros desocupados. A taxa demonstra que a cada 100 pessoas no mercado de trabalho, 15 não estão ocupadas ou procuram emprego. Acompanhado da alta taxa de desemprego, o PIB brasileiro também aumentou neste trimestre, segundo o IBGE: foram R$ 2 trilhões no último semestre, o que representa 1,2% a mais do valor do último trimestre de 2020. 

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1° Edição, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, revela que a economia brasileira está voltando ao nível do período pré-pandêmico com a prévia do PIB e que a atual taxa de desempregados expõe cenário desesperador do mercado de trabalho. “A palavra que melhor descreve a situação atual do mercado de trabalho é excitação. Não dos trabalhadores, que estão procurando ou gostariam de voltar a trabalhar, mas dos empregadores, que estão numa posição de ‘esperar para ver como fica’”, relata. 

Em janeiro deste ano, foram criados 261,4 mil novos postos de trabalho, enquanto em fevereiro o valor quase duplicou, sendo gerados 398,2 mil empregos com carteira assinada. Para Zylberstajn, em março houve diminuição nesse ritmo e, com o número de empregos gerados em abril, 120,9 mil, o Brasil levaria mais de um ano para recolocar todos os desocupados de volta no mercado. Ele também atribui esse desaquecimento  à insegurança gerada pelo atual momento da pandemia. “Falta vacina e há desencontro de informações. O governo federal vai para um lado e o governo Estadual e as Prefeituras para o outro. Essa falta de segurança impede que as empresas tomem decisões”, afirma o professor da FEA.

Zylberstajn também ressalta que as empresas não estão “jogando a toalha”, mas reagindo ao novo cenário da economia. Durante o primeiro trimestre de 2021, a política de manutenção de empregos do governo não estava mais em vigor e “mesmo assim tivemos quase 300 mil negociações para manutenção de empregos”, revela o coordenador, baseado em dados do projeto Salariômetro. A política do governo, que permite que empregadores diminuam a jornada de trabalho ou suspendam o contrato de trabalho em acordo com os empregados, voltou a ser implementada no final de maio deste ano. “Essa permissão, que foi muito criticada pelas centrais sindicais, resultou na preservação de 9 milhões de empregos no ano passado, dos quais 3 milhões ainda estavam com estabilidade durante o período do acordo”, complementa. A medida é eficaz, pois, segundo o professor, preserva o emprego, o capital humano da empresa, e preserva a renda dos trabalhadores mais necessitados. 

Ainda sobre medidas do governo, chama atenção para a interrupção e diminuição do valor transferido do auxílio emergencial. “Essa transferência ajuda famílias vulneráveis e vira imediatamente consumo, ou seja, roda a economia. A interrupção e diminuição do valor do auxílio é um erro injustificável e imperdoável”, ressalta. Ele ainda reforça a importância da vacinação e investimento em infraestrutura de ocupação para uma recuperação mais rápida do mercado de trabalho. 


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