Avança o tratamento do câncer gástrico no Brasil

Paulo Hoff, um dos principais oncologistas do mundo, cita o uso da imunoterapia no combate ao câncer

 10/12/2018 - Publicado há 5 anos

jorusp

O combate ao câncer vem melhorando no Brasil. O desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias usadas no tratamento, além de ações de prevenção, trazem uma nova perspetiva para a doença. Há várias décadas, a medicina vem buscando maneiras de usar nosso próprio sistema imunológico para enfrentar doenças. Nos últimos anos, novas descobertas fizeram com que essa estratégia de tratamento, conhecida por imunoterapia, finalmente apresentasse bons resultados contra o câncer, inclusive o câncer gástrico.

Jornal da USP no Ar entrevistou o médico Paulo Hoff, professor titular da disciplina de Oncologia Clínica do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da USP, diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), membro pregresso do conselho diretor da American Society of Clinical Oncology e uma das principais autoridades do Brasil e do mundo no assunto, com cerca de 300 textos científicos publicados. Segundo ele, apesar do aumento dos casos no País, por fatores como envelhecimento da população e poluição, há uma melhora nos resultados do tratamento, com índices de cura melhores do que eram anos atrás.

Para Hoff, existe um grande e importante esforço em pesquisar novas terapias, mas elas costumam ser focadas em quem já tem o câncer avançado. O grande desafio no Brasil hoje, explica ele, é possibilitar que os indivíduos com sintomas que possam ser relacionados à doença sejam avaliados e obtenham um diagnóstico precoce. Para isso, é necessário uma mudança de foco para o diagnóstico e que se facilite o acesso da população ao sistema de saúde.

Estômago após cirurgia de gastrectomia – Rybulo7 via Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0

Sobre sua especialidade, o câncer gástrico, que já foi um dos mais comuns do País, o doutor aponta que, após uma redução no número de casos trazida pela melhora das condições de higiene e de alimentação, houve, nas últimas décadas, uma mudança no padrão epidemiológico da doença e que os casos tornaram a crescer, mantendo-se entre os cinco cânceres mais importantes entre homens e mulheres. Apesar disso, ele reitera que o tratamento vem melhorando, com excelente expectativa de cura para pacientes diagnosticados cedo e aumento da expectativa de vida em casos mais avançados.

A prevenção do câncer gástrico, recomenda Hoff, pode ser feita através de uma alimentação saudável; evitando a obesidade, que pode ocasionar refluxo associado a alguns tipos de tumores; e mantendo atividades físicas regulares. Ele destaca que, além disso, é necessário foco na detecção precoce: em casos de dores no estômago ou perda de peso não planejada, por exemplo, o paciente deve procurar apoio médico para avaliar se é necessário realizar uma endoscopia.

O tratamento desse tipo de câncer tem visto uma novidade importante: a chamada imunoterapia, que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina deste ano, estimula o sistema imune do paciente a combater o tumor. O especialista ressalta, entretanto, que ela não pode ser aplicada em todos os casos, já que a composição molecular dos variados tipos de câncer gástrico costuma ser diferente e o tratamento, portanto, tem que ser personalizado. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não disponibiliza a imunoterapia, mas possui outros tratamentos gratuitos para pacientes afetados pela doença.

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