Após impacto da pandemia, cirurgias de transplantes são retomadas

Queda no primeiro semestre foi de 40% nos procedimentos e 80 pacientes perderam a visão em SP por falta de córneas

 19/11/2020 - Publicado há 3 anos
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Fotomontagem sobre imagens do Governo do Estado de São Paulo/ Flickr e Freepik

As cirurgias de transplantes no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP começam a voltar à normalidade depois de registrar queda de 40% nos procedimentos no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mesma situação que se verifica em todo o País, em função da pandemia. Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde diz que a redução nos transplantes em todo o Brasil foi de 37% entre janeiro e julho deste ano, se comparado com o mesmo período de 2019.

Marcelo Bonvento, médico coordenador da Organização de Procura de Órgãos do HC – Foto: LinkedIn

“A situação foi tão dramática que 80 pessoas que estavam na fila para transplante de córnea no Estado de São Paulo perderam a visão em decorrência da

não realização do transplante. A pandemia paralisou as atividades do Banco de Córneas que já foi autorizado a funcionar.” A afirmação é de Marcelo Bonvento, médico coordenador da Organização de Procura de Órgãos do HC. Para Bonvento, o trabalho agora é de recuperar a visão desses pacientes com a retomada dos procedimentos. 

Bonvento afirma que a pandemia reduziu a doação de órgãos de 30% a 50% em alguns Estados e os desafios enfrentados pelas equipes transplantadoras foram enormes. “Nós perdemos nossa equipe de retaguarda de enfermeiros, auxiliares e médicos porque muitos se contaminaram com a covid-19 e provocaram redução na escala de trabalho”, afirma o médico. 

Houve também a perda de unidades específicas de terapia intensiva para leitos covid. “Além disso, toda vez que a gente tinha um paciente potencial doador de órgãos, existia o risco dessa infecção assintomática do covid e, numa eventualidade de converter em transplante, de que o órgão pudesse estar comprometido pelo vírus e de alguma forma comprometer o receptor do órgão”, explica.

O desafio foi traçar uma estratégia para resolver esse problema. O que foi feito com uma norma adotada pela Secretaria Estadual de Saúde, alinhada com o Sistema Nacional de Transplante, de que todo potencial doador fizesse o teste da covid-19 para saber se poderia doar. A partir dessa rotina, a situação começou a se normalizar. 

Segundo Bonvento, essa medida permitiu a retomada paulatina das cirurgias de transplantes e fez o Estado de São Paulo saltar do quinto para o terceiro lugar no ranking brasileiro em efetividade na doação de órgãos. O HC-FMRP abrange 93 municípios e mais de 3,6 milhões de habitantes. “Em 2019 o HC fez 65 transplantes renais, 20 transplantes de fígado e seis transplantes de pele. Este ano, já foram feitos 17 transplantes renais e 20 de fígado e estamos retomando o de córneas. Estamos voltando à normalidade mesmo com a pandemia”, assegura.

Ouça no player acima a entrevista com Marcelo Bonvento.


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