A Anvisa aprovou recentemente o registro de um medicamento considerado o mais caro do mundo para tratar crianças com atrofia muscular espinhal, mais conhecida como AME. A doença, considerada rara, se enquadra no critério de classificação: atinge 65 a cada 100 mil pessoas. Segundo o professor Wilson Marques Júnior, do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, em entrevista ao Jornal USP no Ar, na atrofia muscular o neurônio responsável pelos nossos movimentos para de funcionar e “então a pessoa que é acometida dessa doença vai perdendo os movimentos”.
No tipo mais comum da doença, há uma mutação no gene chamado SMN1, responsável pela sobrevivência do neurônio motor, o que ocasiona a paralisia e atrofia progressiva. A criança pode nascer com a doença, ou, no caso mais frequente, a doença aparece nos seis primeiros meses de vida. No tipo dois, a doença começa um pouco mais tarde, a criança consegue ficar sentada mas não consegue andar; no tipo três, a criança consegue andar durante algum tempo. Já o tipo quatro acomete os adultos. Segundo o professor, todas elas resultam de mutação no gene SMN1.
O professor explica que, até pouco tempo atrás, não havia tratamento curativo para a doença: “Eram utilizados fisioterapia, terapia respiratória, nutrição, terapia ocupacional, além do cuidado em evitar infecções e pneumonia”. Com o surgimento do nusinersena, foi possível controlar a doença. O professor explica como o medicamento age no organismo: “A gente tem esse SMN1 que causa a doença, mas a gente tem um outro gene, que é o SMN2, muito parecido com o primeiro, mas, em condições normais, ele produz pouca proteína. Então, o nusinersena faz com que o SMN2 trabalhe mais, produza mais proteína, que é a mesma proteína produzida pelo SMN1.”
Segundo o professor, o nusinersena “é muito eficaz e foi aprovado no Brasil. Ele está disponível no SUS, sendo oferecido para o tipo um da doença, antes que a criança tenha comprometimento respiratório”. Já o medicamento recentemente aprovado pela Anvisa, o Zolgensma, traz uma perspectiva de cura aos pacientes: ele age na reposição do gene doente. Tabelado como o mais caro do mundo, o custo é de R$ 12 milhões. O professor compartilha que é possível que o governo negocie preços mais acessíveis do medicamento. Sobre a sua implementação na rede pública de saúde, o professor diz: “A Anvisa aprovou o uso do medicamento, a empresa responsável ainda terá que fornecer algumas informações, em princípio está aprovado, mas ele não foi incorporado no SUS. Essa será uma outra luta a ser realizada”.
Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.