Alta abstenção e boicote da oposição marcam eleições legislativas na Venezuela

Pedro Feliú Ribeiro comenta que Juan Guaidó saiu enfraquecido, mas que uma nova coalizão de oposição pode crescer após essas eleições

 10/12/2020 - Publicado há 3 anos
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Jornal da USP no Ar de hoje (10) trouxe o professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e pesquisador do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni), ambos da USP, Pedro Feliú Ribeiro, para conversar sobre as recentes eleições legislativas na Venezuela, caracterizadas por alta abstenção e boicote da oposição, que alegou fraude no processo eleitoral. Ribeiro destaca que esse número de abstenção não é recorde. Em 2005, quando Hugo Chávez ainda era presidente da Venezuela, houve eleições legislativas com comparecimento de apenas 25% dos eleitores.

O especialista explica que o resultado representa um enfraquecimento de Juan Guaidó, um dos líderes da oposição e presidente da Assembleia Nacional, a qual foi destituída pelo Judiciário venezuelano em 2017, perdendo seus poderes efetivos. Porém, outra linha da oposição cresce com o resultado, que foi a coalizão de três alianças de partidos que concorreram nas urnas contra o partido de Nicolás Maduro, recebendo 18% dos votos válidos. Ribeiro explica que essa coalizão é contra o boicote das eleições e tem o processo eleitoral como estratégia para derrubar o governo atual.

O professor aponta que os principais fatores que determinam uma democracia são a participação (sufrágio universal) e a competição política. Ele destaca que a Venezuela é questionada principalmente no segundo fator, pois “vários partidos são inabilitados de participar das eleições com justificativas questionáveis”. A oposição clama que a Justiça é enviesada a favor do governo vigente. Na visão do especialista, o Brasil, que já se mostrou contra as eleições em pronunciamento do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deveria fazer mediações na Venezuela, assim como Uruguai e México já fizeram. Segundo ele, tomar partido em relação às decisões venezuelanas impede que o Brasil use “liderança política positiva na região”, exercendo papel diplomático.

No resto da comunidade internacional, vários países não reconheceram as eleições legislativas, como Peru, Colômbia, Equador. Estados Unidos e a União Europeia apresentam críticas ao governos venezuelanos há anos, quando não reconheceram a reeleição de Maduro em 2018. O Uruguai é um país que mudou de posição: antes, com frente ampla de esquerda no governo, o país fazia papel de mediador na Venezuela, enquanto atualmente, com o governo de centro-direita de Lacalle Pou, o país não reconheceu a mudança de pleito. Os principais aliados venezuelanos são Rússia, China, Turquia, Nicarágua, Cuba e Irã. Ribeiro afirma que um dos fatores para Maduro se manter no poder com força é o apoio militar do próprio país e de aliados fortes como Rússia e China.

O professor pontua que uma possível melhora na condição econômica da Venezuela está associada a uma alavancada nas suas fontes de renda, das quais a exportação de petróleo é a principal. Atualmente, essa atividade sofre com sanções econômicas dos EUA, que são um dos principais compradores de petróleo. Para ele, a eleição de Biden não deve gerar mudanças significativas, mantendo as sanções como já existem. Ribeiro também explica que as sanções acabam por ter efeito contrário do desejado, pois servem como motivo para Maduro inflar seu discurso anti-imperialista e nacionalista, unindo-se ainda mais, militar e politicamente, à Rússia e China.


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