Acusações de Moro contra Bolsonaro são graves e merecem apuração

A opinião é dos professores Maurício Steigemann Dieter e Heleno Taveira Torres, os quais, no entanto, divergem quanto a outros aspectos do legado de Moro no atual governo

 29/04/2020 - Publicado há 4 anos

Neste momento, os impactos políticos da saída de Sérgio Moro são mais discutidos do que seu próprio trabalho. Por isso, fazer um balanço sobre o legado que ele deixará tanto para o Ministério da Justiça quanto para o Brasil é extremamente necessário. Professores da USP apresentaram visões distintas sobre esse legado de Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Maurício Steigemann Dieter, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), comenta em entrevista ao Jornal da USP no Ar que é crítico ao fato de o ex-juiz ter aceitado o cargo de ministro. “A partir do momento em que o ex-juiz Sérgio Moro sai da 13ª Vara Federal de Curitiba, ele sai com uma autoridade moral diminuída”, comenta Dieter. Para ele, isso ocorre porque o trabalho de Moro frente às investigações contra o Partido dos Trabalhadores (PT) era vinculado a um projeto político, sendo ele um coautor. Ao aceitar um cargo de ministro da Justiça de um governo de oposição, sua atitude pode ser considerada imoral. O professor aproveita para citar os vazamentos divulgados pelo Intercept, e que demonstram uma atuação parcial do juiz enquanto responsável pelos inquéritos da Lava Jato.

Já Heleno Taveira Torres, também da Faculdade de Direito da USP, acredita que o aspecto técnico desempenhado por Moro chama mais atenção do que sua característica política. Para o professor, Moro atuou dentro de sua juridicidade e, com a experiência contra grandes estruturas do crime organizado e no enfrentamento da corrupção, conseguiu desempenhar seu papel de forma satisfatória. A questão levantada por Torres é que realmente havia uma expectativa do governo de que Moro atuasse como ministro da Justiça, mas de forma política. Ao decidir atuar como técnico, o ex-juiz acabou frustrando o presidente Bolsonaro e seus seguidores. O professor lembra que, além do Ministério da Justiça, Moro assumiu protagonismo nas questões de segurança pública, empenhando-se contra o crime organizado e facções criminosas.

Ambos os professores concordam que as acusações feitas por Moro contra o presidente Jair Bolsonaro são gravíssimas e devem ser investigadas. Com relação à troca na Polícia Federal (PF), Dieter comenta que a PF era a principal base de apoio de Moro, então, ao perceber que iria perder essa influência, e principalmente porque essa mudança envolvia questões particulares do presidente, Moro decidiu sair. Para Torres, apesar de as investigações estarem no início, fica a questão de qual será a consequência final desse processo, pois Moro certamente trará provas para tentar comprovar o que foi denunciado.

Para ouvir a íntegra das entrevistas e das opiniões dos professores, clique no player acima.


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