Hernan Chaimovich – Foto: Francisco Emolo / USP Imagens
Instituições financiadas com o dinheiro do contribuinte têm o dever de prestar contas, de forma compreensível e transparente. Tal prestação de contas não se limita ao aspecto puramente financeiro, isto é, quanto recebeu e como gastou. A indicação sobre onde os recursos públicos são aplicados é feita regularmente pelas três universidades a todos os órgãos de controle do Estado, que raramente detectam problemas nos balancetes anuais detalhados. Adicionalmente, as três universidades vêm demonstrando que a produtividade dos corpos docentes vem aumentando por fatores que superam, em muito, a produtividade dos trabalhadores deste país. O impacto intelectual, econômico e social da produção acadêmica, a qualidade dos profissionais, mestres e doutores formados pelas três universidades e a plêiade de serviços prestados, que se estendem desde a atenção médica até a música e as artes plásticas, são argumentos que evidenciam, qualitativa e quantitativamente, que o investimento produz resultados.
Esses dados, porém, refletem somente uma parte do impacto cultural, social e econômico das três universidades públicas do Estado. Isolar a contribuição da USP sobre uma megalópole como a cidade de São Paulo é um problema de econometria complexo, que requer tempo e investimento para ser demonstrado. Agora, imaginar como seria Campinas sem a Unicamp requer apenas uma olhada rápida ao passado. Difícil seria, por exemplo, conceber a região, hoje considerada o Vale do Silício tupiniquim, sem a pesquisa e os profissionais formados por essa instituição de ensino superior. O ecossistema de alta tecnologia que nasceu na região dificilmente teria se desenvolvido sem o ambiente determinado pela presença do campus da Unicamp.
São Carlos constitui outro exemplo interessante quando se imagina como seria sua história sem os campi da USP e da UFSCar. Mais um polo de tecnologia, com irradiação para a região toda, incluindo aí a cerâmica vizinha. O investimento privado em pesquisa agropecuária, evidente no Estado de São Paulo, não teria sido feito sem a investigação e os cientistas da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo. O peso da Unesp na economia, e sua contribuição para o (alto) perfil socioeconômico do Estado, torna-se explícito em Bauru, Jaboticabal e Araraquara.
Dito isso, restam aspectos que, em alguns casos, seriam fáceis de quantificar e, se necessário, monetizar. O peso dos estudantes das três universidades estaduais paulistas nas economias de cidades como Pirassununga, Assis, Marília, Limeira ou Lorena se faz sentir desde a padaria até o bar, da lavanderia ao mercadinho da esquina. Os estudantes afetam e modificam economias locais até um ponto que padeiros e barbeiros sabem que sua sobrevivência como pequenos empreendedores depende da existência dessa população flutuante.
Há outro aspecto a ser ressaltado. A vida no interior paulista foi modificada pela necessidade de abrigar uma população de professores, funcionários e estudantes com uma formação cultural distinta. Mistura harmônica de culturas sempre enriquece sociedades que, como nesses casos, não apenas as aceita, mas acolhe-as e se transforma com elas.
Tudo isso contribuiu, evidentemente, para transformar o padrão e a qualidade do emprego no interior paulista e, não por acaso, foi induzido pela existência de instituições de ensino superior e pesquisa, cujo impacto é reconhecido e destacado em todos os rankings internacionais. O desempenho internacional das universidades públicas do Estado também é tributário de outra instituição paulista, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que, a partir de décadas de investimento constante em pesquisa científica, propiciou a criação, internacionalmente competitiva, de conhecimento em todas as áreas do saber, em benefício do cidadão-contribuinte.
O reconhecimento da eficiência e da pertinência do sistema de ensino superior e pesquisa, financiado pelo contribuinte no Estado de São Paulo, não pode ser feito de forma corporativa, somente pelos que nele trabalham ou estudam. Em todos os espaços onde o impacto desse sistema condiciona a própria existência do lugar, seja uma cidade do interior ou um hospital de alta complexidade, necessitamos de uma atitude altiva. Que todos se levantem, mostrem e demonstrem os caminhos apontados, as contribuições ofertadas, os benefícios propiciados e os avanços conquistados, pois somente esse sistema vai nos permitir enfrentar o futuro da complexidade presente.