




Carlos Brandão, que nos deixou recentemente, fez parte de um grupo de docentes e pesquisadores vocacionados ao humanismo. Seus olhos se iluminavam para especialmente dois temas: educação, particularmente educação popular, e os homens e mulheres do mundo rural.
Psicólogo e antropólogo, Carlos Brandão sabia lidar com as palavras e com observação atenta às pessoas, ao ambiente e à natureza. Generoso, sempre compartilhou seus achados e reflexões na perspectiva da vida corrente e do homem comum que produz a vida nas comunidades. Definia a si mesmo como “poeta, antropólogo, educador e militante ativista da educação popular”.
Amigo e adepto do pensamento e prática educadora de Paulo Freire, Brandão foi um difusor por onde passava do pensamento freiriano sobre o ato de educar e dialogar. A palavra “partilha” compunha seu repertório de relacionamento humano, associando sempre sua prática educativa e de pesquisa a uma concepção solidária, inovadora, e de muito diálogo, da valorização da pesquisa participante como indicador da qualidade das relações e do fazer a várias mãos, ou conectar, como ele sempre dizia. Para Brandão, a razão de ser da educação não é apenas capacitar, mas principalmente criar “comunidades aprendentes, geradoras de saberes, abertas ao diálogo”, criando conectividades.
Suave, divertido, criativo, foi sempre um pedagogo no sentido pleno da palavra. Deixará muita saudade e, para ocupar o vazio, Carlos Brandão deixa um imenso legado por meio de seus livros, aulas e eventos públicos gravados e, mais recentemente, sua participação em múltiplas apresentações por mídias digitais.
Sua célebre frase “A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo” demostra sua excepcionalidade em ver o ato de educar como transformador para a mudança da concretude do mundo.
Nestes tempos de retomada de um clima democrático que reconhece as diferenças na sociedade, quando voltamos a fortalecer nossa aposta numa sociedade que precisa enfrentar as iniquidades, exclusões, preconceitos e negacionismos, as ideias de Brandão reforçam a importância de formar pessoas livres e criativas e com capacidade reflexiva e crítica, abertas para incorporar o saber, a ciência e o conjunto de complexidades e incertezas numa perspectiva de compartilhamento e reciprocidades.
Adeus ao homem e educador que até os últimos dias compartilhou seus escritos e sua sabedoria no viver consigo mesmo e com os outros. Carlos Rodrigues Brandão, um ser iluminado.
Nosso adeus!
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