Turbulências no agronegócio: em junho cada dia conta!

Marcos Fava Neves é professor titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo

 26/06/2019 - Publicado há 5 anos

Marcos Fava Neves – Foto: Arquivo Pessoal

Há períodos em que esta análise mensal do agro só apresenta números sem grandes emoções… Neste mês, cada dia conta devido à enorme turbulência! Haja emoção… Vamos à análise para tentar ajudar nas tomadas de decisões.

A elevação da temperatura nas relações comerciais China e EUA trouxe mais incertezas na manutenção do ritmo do crescimento global. A OCDE agora estima este em 3,2% com as diminuições do fluxo de comércio. Poderia voltar a 3,4% em 2020, mas dependente da não escalada tarifária, principalmente entre China e EUA. Os EUA deverão crescer 2,8% neste ano, a China, 6,2%, o Japão, 0,7% e a Zona do Euro, 1,2%.

A falta de acordo com a China vem sendo muito prejudicial aos produtores dos EUA, mas o governo deve disponibilizar US$ 15 a 16 bilhões em ajuda. Outro problema nos EUA que pode ter impacto positivo ao agro brasileiro é a ameaça, pelo presidente Trump, de tributar produtos mexicanos em virtude dos problemas de imigração. O México é grande importador de produtos agro dos EUA.

Segue indo muito bem a nossa safra, o clima ajudou e a safrinha de milho chegará a 69 milhões de toneladas, 30% maior que no ano passado. Com isto teremos 95,3 milhões de toneladas deste cereal no total (18% a mais). A Conab inclusive aumentou em 1 milhão a estimativa comparada à última. Cerca de 31 milhões de toneladas serão exportadas e internamente serão consumidas 62,5 milhões de toneladas.

Pela Conab teremos 236,7 milhões de toneladas de grãos nesta safra, aumentando 1,4 milhão no número de abril e, no total, 4% superior à produção de 2017/18. Na soja produziremos 4,2% a menos que o ano passado, 114,3 milhões de toneladas, e exportaremos 68 milhões de toneladas em 2019/20, 2 milhões a menos que no anterior. O arroz deve cair 12,2%, ficando em 10,6 milhões de toneladas.

Segundo o Mapa, o Valor Bruto da Produção de 2019 será de 597,8 bilhões, crescimento de R$ 9 bilhões sobre a projeção feita em abril e 1,4% maior que o valor de 2018, mesmo com a queda de 12,7% no valor total da soja. O valor do milho ficará 17,3% acima, algodão, 17,1%, laranja, 15,1%. Cairão o café (21%) e o trigo (4,4%). Na pecuária o VBP será de R$ 199,4 bilhões, R$ 3 bilhões a mais que a última previsão e também 3% acima de 2018. O VBP deve aumentar em junho com a reação dos preços dos grãos e carnes.

Em abril nossas exportações do agro caíram 2,4% quando comparadas a abril de 2018, totalizando US$ 8,6 bilhões (47,6% de tudo que foi vendido pelo Brasil). As importações caíram 12% para US$ 1,1 bilhão deixando então um saldo de US$ 7,5 bilhões. Os volumes vendidos cresceram 1,2%, mas os preços caíram 6%. Nos primeiros quatro meses do ano exportamos US$ 30,42 bilhões, 0,2% a mais que aos US$ 30,35 bilhões no mesmo período de 2018. Conseguimos vender 5,9% a mais de produtos, pois os preços em geral caíram 5,4%. As importações caíram de US$ 4,91 bilhões para US$ 4,79 bilhões.

As cinco cadeias líderes das exportações, que representam 80% do total vendido, nos quatro primeiros meses deste ano foram: soja (37,9%); produtos florestais (15,8%); carnes (15,3%); café (5,7%) e os cereais, farinhas e preparações (5,1%). As vendas de soja foram de US$ 11,52 bilhões (0,6% a menos) e apenas de grão foram embarcadas 26,3 milhões de toneladas (12% a mais), pena que o preço médio foi 8% menor. De papel e celulose trouxemos US$ 4,82 bilhões (3,7% a mais), com preços 5,8% maiores. Nas carnes também crescemos 3%, chegando a US$ 4,64 bilhões, puxada pelo frango com US$ 2,08 bilhões (quantidade cresceu 0,6% e preço médio, 4,2%). Na sequência a carne bovina com US$ 2,01 bilhões (+3,2%) e a carne suína com US$ 414,12 milhões (+3,8%). O café trouxe nestes quatro meses US$ 1,75 bilhão (+7,2%), com crescimento de 32% na quantidade, 722,5 mil toneladas vendidas, e forte queda de preços, de 17,4%. Finalmente, os cereais, farinhas e preparações tiveram 43% de crescimento, trazendo US$ 1,55 bilhão, sendo US$ 1,23 bilhão (+54,8%) para o milho, com quase 7 milhões de toneladas vendidas (+40,9%). Vendemos para a Ásia US$ 14,92 bilhões, 4% a mais, e esta já representa praticamente 50% das nossas exportações, seguida pelo Oriente Médio, que tem 8,3% do total.

Tivemos mais evoluções no importante tópico da peste suína africana. Foi reportado que já está na Mongólia, Vietnã e Camboja, desde sua primeira eclosão em agosto na China. Na China estima-se já que 40 milhões de animais foram abatidos e muitos mais serão, abrindo espaços para importações de carnes. Grandes esforços estão sendo feitos pelo USDA para evitar que a doença chegue aos EUA, uma ameaça real. No relatório bianual publicado pela FAO, os impactos da peste suína farão com que as importações de soja pela China caiam outra vez dos 94 milhões de toneladas importados em 2017/18 para 84 milhões de toneladas. Será um período difícil para os produtores americanos de soja, mas melhor para os produtores de suínos, com importações chinesas já oito vezes maiores. Outro movimento que se observa, como existe a tarifa sobre os EUA, é o Canadá vendendo mais para a China e importando dos EUA para seu mercado.

Os cinco fatos para acompanhar agora diariamente em junho são:

1) O mais importante: o plantio da safra nos EUA. Estima-se que mais de 2,5 milhões de hectares deixarão de ser plantados com milho devido às chuvas, o que fez os preços subirem para o maior valor em três anos e também subirem no Brasil. As datas para plantar e requisitar o seguro já estão fechadas e o relatório do USDA mais recente mostra o milho com apenas 67% da área plantada, contra 96% dos cinco anos anteriores e a soja com 39% contra 79% da média de cinco anos, ainda podendo ter alguma recuperação;

2) Os impactos da evolução da gripe suína africana na China nas importações e preços de carnes e grãos;

3) As questões comerciais de China e EUA e mais recentemente destes com o México e seus impactos nos fluxos de comércio;

4) O andamento das reformas no Brasil e as pressões no câmbio, que voltou a se valorizar e;

5) O impacto deste caso isolado de BSE (vaca louca) atípico num animal idoso na pecuária brasileira e suas exportações. Não teremos problemas com a OIE, mas foram temporariamente suspensas pelo Mapa as exportações para a China, mas creio que por pouco tempo. Que período turbulento para os grãos e as carnes. Em junho cada dia conta!

No geral a conjuntura internacional está favorável ao agro brasileiro, o que precisa ganhar velocidade é a conjuntura interna, com um movimento cada vez mais forte da sociedade civil organizada pressionando a classe política pela apresentação e aprovação das reformas emergenciais para consertar coisas erradas, mas também principalmente de um plano estratégico para o País.

 

 

 


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