Era uma pessoa muito especial, extraordinário fotógrafo, grande mestre e amigo. Marcou sua presença inesquecível no laboratório de fotografia do então curso de Cinema da ECA, trazendo uma excelente formação a seus alunos e enriquecendo a cultura visual de tantos jovens que seguiram as variadas carreiras próprias ao campo do audiovisual. E, vez ou outra, fez o mesmo com colegas como eu, que aprendi muito com ele, passando a observar a fotografia com um novo olhar.
Discreto, não raro surpreendia a quem, com menos contato com ele, o supunha figura autocentrada e pouco disponível. Na verdade, presenteava a todos – alunos, alunas, colegas – com sua atenção e respeito sem se dar ares de figura iluminada. Deixou que seu talento e suas fotos memoráveis falassem por si, e foi ao mesmo tempo receptivo a uma boa conversa “pra valer” sobre seu trabalho, sempre todo ouvidos e em nada afetado por qualquer ansiedade discursiva em defesa de sua arte.
Não era preciso.
Valia mais o viver a troca de ideias e ouvir seus comentários de caráter prático referidos ao momento de uma ou outra foto. Foi um mestre do instantâneo como poucos, sempre dentro de um apuro formal na composição e de uma captura de expressividades capaz de revelar, pela textura de gestos e expressões, um estado de espírito, um lance do acaso ou a solidão de figuras que fotografou com muita sensibilidade pelas ruas e praças de São Paulo e outras grandes cidades que visitou.
Em particular, sempre me impressionaram os entrelaçamentos de linhas, formas e texturas que sua composição ressalta para capturar o abandono de um canto desgastado da cidade ou para destacar uma figura humana imóvel, como que fazendo uma rima com as formas que a cercam. E, quando a foto é a cores, vale a atração de um estímulo pictórico mais intenso que chama para si o olhar enquanto se vê num canto da foto alguém que passa ou que, lá instalado, tem sua atenção voltada para o “fora do campo”, foco de uma outra direção do olhar que traz nova feição ao momento do encontro do fotógrafo com seu motivo.
Carlos fez convergir arte e documento, levando consigo na experiência de flâneur a questão do “instante decisivo” formulada por Cartier-Bresson, com a qual às vezes dialogou bem a seu modo e com toda liberdade, buscando uma captura da imagem própria a cada situação, compondo assim as variantes de seu estilo conforme as particularidades do motivo. Seu cuidado e respeito pela condição humana impressa na foto adensam nossa experiência estética num sentido que está nas antípodas do formalismo.
E quando sua objetiva aponta para um segmento de paisagem ou para uma composição primorosa da natureza são momentos em que, diante da foto, não raro me sobrevém associar tal atenção e empatia com a vida a um anelo de reconciliação silenciosa que os amigos poderiam reconhecer pensando na figura introspectiva, discreta, mas sempre atenta à demanda do Outro.
Perdemos o amigo e ficamos com a saudade.
Vale agora somar esforços com Regina, sua companheira de todos os momentos, para garantir que tenhamos sempre ao alcance seu enorme legado.