Questionário mapeia experiências da comunidade universitária

Por Cibele Maria Russo Novelli, Márcia Lima, Felipe de Souza Tarabola e Ricardo Rodrigues Teixeira, da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP

 25/04/2023 - Publicado há 1 ano
Cibele Maria Russo Novelli – Foto: Arquivo pessoal
Márcia Lima – Foto: Wanezza Soares
Felipe de Souza Tarabola – Foto: Arquivo pessoal
Ricardo Rodrigues Teixeira – Foto: Arquivo pessoal
O Questionário PRIP: Inclusão e Pertencimento na USP é o primeiro grande estudo dedicado a avaliar as percepções da comunidade USP sobre os ambientes institucionais, relações interpessoais e sua associação com a performance acadêmica e satisfação na Universidade.

Inspirado em pesquisas de diversas universidades do mundo conhecidas como Campus Climate Surveys, coletou dados da comunidade acadêmica entre 23 de agosto e 20 de setembro de 2022. Nesse período, o questionário recebeu 13.795 respostas de alunos(as) de graduação e pós-graduação, pós-doutorandos(as), servidores(as) docentes e técnico-administrativos(as) da USP, e a partir de um plano amostral por unidades e categorias de resposta estimou-se diversas características da população universitária.

O questionário é organizado em grandes seções: Experiências acadêmicas e profissionais, Experiências pessoais, Perfil sociodemográfico, Saúde mental e neurodiversidades, Inserção institucional, inclusão e pertencimento. A partir dos resultados, a Universidade poderá propor políticas para melhorar a experiência acadêmica, profissional e interpessoal na USP.

Alguns resultados serão apresentados na Exposição PRIP: Inclusão e Pertencimento da USP, a partir do dia 26, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Cidade Universitária e também nos campi de Bauru, Lorena, Pirassununga, Quadrilátero Saúde/Direito, Ribeirão Preto, Santos e São Carlos.

Experiências acadêmicas e profissionais

Aos estudantes e pós-doutorandos, foram feitas diversas perguntas relacionadas à percepção do aproveitamento do próprio potencial acadêmico, à experiência e performance acadêmica, ao desenvolvimento intelectual, ao interesse por novas ideias e à confiança na conclusão de seu curso ou formação na USP. Aos servidores, sobre sua experiência profissional, carreira e processos avaliativos.

Alguns destaques:

Estudantes de graduação: Apenas 39% dos(as) estudantes de graduação concordam que seu potencial acadêmico é aproveitado ao máximo e 38% concordam que sua performance acadêmica está de acordo com as próprias expectativas. Por outro lado, 74% se sentem confiantes de que vão terminar seus cursos, 65% estão satisfeitos com seu desenvolvimento intelectual desde que vieram para a USP e 56% estão satisfeitos com sua experiência acadêmica na USP.

Estudantes de pós-graduação: 57% dos(as) pós-graduandos(as) concordam que seu potencial acadêmico é aproveitado ao máximo e 57% concordam que sua performance acadêmica está de acordo com o que esperavam. 82% se sentem confiantes de que vão terminar seus cursos, 80% estão satisfeitos com seu desenvolvimento intelectual desde que vieram para a USP e 70% estão satisfeitos com sua experiência acadêmica na USP.

Respostas para questões relacionadas à percepção de experiência acadêmica para estudantes de graduação. Elaborado por: Equipe Formação e Vida Profissional da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento

Pós-doutorandas(os): 59% concordam que seu potencial acadêmico é aproveitado ao máximo, 63% concordam que sua performance acadêmica está de acordo com o que esperavam e 79% estão satisfeitos com sua experiência acadêmica na USP.

Respostas para questões relacionadas à percepção de experiência acadêmica para estudantes de pós-graduação. Elaborado por: Equipe Formação e Vida Profissional da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento

Docentes: 62% dos(as) docentes dizem estar satisfeitos com sua carreira na USP. Entretanto, 39% discordam que os processos avaliativos são transparentes e 61% discordam que questões pessoais – tais como a parentalidade, cuidados com idosos, questões de saúde mental – sejam levadas em consideração pela USP nos processos avaliativos e de progressão na carreira. A atividade da carreira mais reconhecida segundo a percepção dos docentes é a pesquisa, seguida da gestão, ensino e extensão.

Servidores técnico-administrativos: 54% discordam que as questões pessoais são levadas em consideração nos processos avaliativos e 60% discordam que os processos avaliativos para a carreira são transparentes. Há grande insatisfação nesse grupo em relação à carreira, à percepção de reconhecimento de seu trabalho e de sua formação acadêmica.

Experiências pessoais

A seção de Experiências pessoais é dedicada a investigar a vivência, por membros da comunidade universitária, de episódios de discriminação, comportamento intimidador, hostilidade, bullying ou assédio moral na USP. Os grupos que porcentualmente mais relataram experiências como essas foram os de servidores técnico-administrativos (56%) e docentes (51%), seguidos de alunos de graduação e pós-graduação (32% cada). Vale observar, entretanto, que a pergunta refere-se a ocorrências desde a entrada na USP, e que os servidores permanecem na Universidade muito mais tempo que os estudantes, em geral. Além disso, muitas pessoas já fizeram – ou fazem – parte de mais de um grupo na Universidade e, portanto, podem ter experimentado essas ocorrências de diferentes ângulos. Em síntese, a experiência dentro da Universidade tem um tempo diferenciado para servidores, docentes e discentes.

Os motivos das experiências negativas vivenciadas

Para estudantes de graduação, o motivo percebido mais citado das experiências é a condição socioeconômica; para estudantes de pós-graduação e docentes, a identidade de gênero. Para pós-doutorandos(as) o desempenho acadêmico foi o motivo mais citado e para servidores técnico-administrativos a resposta mais citada como motivo percebido das experiências negativas vivenciadas foi “Não sei”. A autoria de comportamentos inadequados mais citada por estudantes de graduação, pós-graduação e pós-doutorandos(as) foi o(a) professor(a), para servidores técnico-administrativos foi a chefia, e por docentes, um(a) colega de trabalho. Perguntados sobre como reagiram, estudantes e pós-doutorandos(as) responderam com maior frequência que não conseguiram reagir. A reação mais citada pelos(as) servidores(as) docentes e técnico-administrativos(as) foi a de enfrentar o(a) assediador(a) no momento do assédio.

Perfil

O questionário fornece estimativas da distribuição de cor/raça, identidade de gênero, orientação sexual, religião, situação conjugal, moradia e parentalidade para os grupos em estudo.

O grupo que mais apresenta autodeclarados negros é o de alunos de graduação, com 32% de pardos ou pretos, e o que menos possui autodeclarados negros é o de docentes, com apenas 8,4% de pardos ou pretos. Considerando a orientação sexual, os grupos que possuem maior porcentual de autodeclarados homossexuais, bissexuais, pansexuais ou assexuais são estudantes: 39% para a graduação e 30% para a pós-graduação. Entre servidores técnico-administrativos, 93% se autodeclaram heterossexuais, assim como 90% dos docentes. Quanto à identidade de gênero, a categoria majoritária para estudantes, pós-doutorandos(as) e servidores(as) técnico-administrativos(as) é mulher cis, e para docentes, homem cis. Entre estudantes de graduação, 3,3% se declaram mulheres trans, homens trans ou pessoas não-binárias e para estudantes de pós-graduação, esse porcentual é 1,6%.

Entre estudantes de graduação, 66% relataram não receberem ou terem recebido bolsa de pesquisa, 28% dizem ter solicitado e ter sido contemplados(as) e 6% dizem ter solicitado, mas não ter sido contemplados(as).

Questionados sobre o nível educacional de seu(sua) primeiro(a) responsável, 52% dos(as) estudantes de graduação relatam que não tem ensino superior completo, enquanto 48% relatam que o(a) responsável tem ao menos ensino superior completo.

Para a pergunta “Qual das faixas representa melhor a sua renda mensal familiar?”, 35% dos(as) alunos(as) de graduação responderam ter renda familiar entre R$ 3 mil e R$ 7 mil, seguidos de 30% que afirmam ter renda familiar até R$ 2,9 mil, 20% entre R$ 7 mil e R$ 22 mil e 7% que a família tem renda superior a R$ 22 mil.

Saúde mental, neurodiversidades e deficiências

Uma seção do questionário é dedicada a investigações referentes à saúde mental, neurodiversidades e deficiências dos membros da comunidade USP.

Ao serem questionados sobre o impacto da USP em sua saúde mental, 36% dos respondentes disseram que a USP mais prejudica do que beneficia a sua saúde mental, 26% que a USP mais beneficia do que prejudica a sua saúde mental e 38% que a USP não prejudica nem beneficia a sua saúde mental, ou prejudica e beneficia em mesmo grau. O grupo que mais relatou sentir que a USP mais prejudica do que beneficia a sua saúde mental é o de alunos de graduação, com 46%, enquanto 20% desse mesmo grupo diz que a USP mais beneficia do que prejudica a sua saúde mental.

Quando questionados “Você procurou ajuda profissional para algum problema de saúde mental no último ano?”, 49% dos respondentes disseram que sim, sendo que 44% conseguiram atendimento e 5% não conseguiram atendimento.

Os dados sugerem que a autopercepção de saúde mental está associada a aspectos sociodemográficos e acadêmicos. Os respondentes foram convidados a darem nota à sua saúde mental no momento da resposta do questionário, e verificou-se que estudantes de graduação de renda familiar mais baixa indicam notas mais baixas para a sua saúde mental. Além disso, foi observada também a associação entre a percepção de aproveitamento do potencial acadêmico e performance acadêmica de estudantes com a nota dada para a saúde mental.

Medicalização da comunidade

22% da comunidade relatou fazer uso de alguma medicação. Os tipos de medicamentos mais citados foram os antidepressivos, os ansiolíticos, os antipsicóticos atípicos, hipnóticos e psicoestimulantes. O grupo que mais relatou uso de medicamentos foi o de alunos de graduação (24%), seguidos de alunos de pós-graduação (23%), funcionários técnico-administrativos (22%), pós-doutorandos (21%) e docentes (16%).

Neurodiversidades e deficiências

As deficiências relatadas com maior frequência pelos respondentes do questionário foram as visuais e auditivas, e a condição neurodiversa mais referida foi o transtorno de espectro autista. Os grupos que mais relataram essas condições foram os de servidores técnico-administrativos, docentes e estudantes de graduação, cujos porcentuais de deficiência visual total ou parcial foram 5,2%, 5,9% e 3%, respectivamente nos três referidos grupos, de deficiência auditiva total ou parcial 3,5%, 3,2% e 0,9%, respectivamente, e de transtorno de espectro autista 0,4%, 1,2% e 2,6%, respectivamente. Deficiências físicas que afetam ou não a caminhada, lesão cerebral adquirida, deficiências de fala ou comunicação e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e outras foram citadas. Os porcentuais que relataram não ter deficiências ou neurodiversidades foram 86,2% dos(as) estudantes de graduação, 89,8% dos(as) estudantes de pós-graduação, 92,6% dos(as) pós-doutorandos(as), 84,7% dos(as) servidores docentes e 82% dos(as) servidores(as) técnico-administrativos(as).

Inserção institucional, inclusão e pertencimento

Todos os grupos investigados acreditam que a menor inclusão promovida na USP é a de pessoas de baixo nível socioeconômico. Os grupos também relatam pouca abertura da instituição, das instâncias de participação e decisão da Universidade. Entretanto, todos os grupos indicam a sensação de que os ambientes da USP são, na maior parte do tempo, amigáveis, acolhedores, respeitosos, colaborativos e percebem uma perspectiva de melhora da Universidade em tal aspecto.

Vale observar que os dados indicam associação entre características do ambiente institucional e as percepções sobre desempenho acadêmico e confiança dos alunos na conclusão de seus respectivos cursos. Ambientes mais amigáveis e mais acolhedores, por exemplo, favorecem claramente os estudos.

Palavras positivas e negativas segundo a comunidade USP

Considerando toda a comunidade acadêmica, palavras como “excelência”, “oportunidade”, “pesquisa”, “qualidade”, “conhecimento”, “ensino” e “diversidade” estão entre as palavras positivas mais citadas pelos respondentes do questionário. Entre as palavras negativas mais citadas, estão “elitista”, “excludente” e “burocrática”.

Sobre: A pesquisa “Questionário PRIP: Inclusão e Pertencimento na USP” conta com contribuições da equipe de pesquisa da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento: Ana Lucia Duarte Lanna, Miriam Debieux Rosa, Cibele Maria Russo Novelli, Márcia Lima, Ricardo Rodrigues Teixeira, Ester Rizzi, Marie Claire Sekkel, Renato Cymbalista, Adriana Alves, Rodrigo Correia do Amaral, Ana Elisa Liberatore Silva Bechara e Felipe de Souza Tarabola. A pesquisa está registrada na CAAE – Plataforma Brasil com número 61152522.5.0000.5561, sob responsabilidade da profa. Cibele Maria Russo Novelli. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo em 09/08/2022. A preparação e análises de dados foram desenvolvidas pela Equipe Formação e Vida Profissional da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da Universidade de São Paulo: Cibele Maria Russo Novelli, Maria Victoria B. Barros, Caio Assumpção Rezzadori, Lucas Roberto de Oliveira Lopes e João Gabriel Rego. O relatório completo de análises será disponibilizado oportunamente pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da Universidade de São Paulo.

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