Quais os efeitos da prática de exercícios físicos sobre perdas cognitivas oriundas do tratamento de câncer?

Por Jule Amaral, mestranda da Faculdade Medicina USP

 10/01/2023 - Publicado há 1 ano
Jule Amaral – Foto: Arquivo pessoal

 

Muito comumente relatada após a quimioterapia, a perda cognitiva é um efeito colateral que acomete sobreviventes de câncer, por até décadas após o término do tratamento, segundo estudos. O chamado Chemo Brain (ou “nevoeiro encefálico quimioterápico”) apresenta-se como alterações relacionadas a disfunção na memória, atenção, função executiva e velocidade de processamento sendo essas, as mais descritas na literatura médica.

Embora estudos sobre o assunto se desenvolvam em todo mundo, os desafios de pesquisa sobre o tema são inúmeros. Em virtude dos impactos físicos, fisiológicos, psíquicos e emocionais vivenciados pelos pacientes oncológicos, a dissociação de fatores e sintomas como exclusivos ao Chemo Brain é, sem dúvidas, um caminho árduo e laborioso. Todavia, a similaridade das queixas favorece os processos investigativos, permitido maior robustez e consistência de estudos. Partindo desse cenário e da importância social e clínica percebidas dentro do contexto da saúde, pesquisadoras da Universidade de São Paulo, se propuseram a investigar as possíveis vias de ocorrência do Chemo Brain, assim como estratégias de controle e prevenção.

O projeto, intitulado “Disfunção autonômica e perda cognitiva em mulheres sobreviventes de câncer de mama: impacto do treinamento físico”, desenvolvido pela professora Patrícia Chakur Brum e por mim, tem como objetivo estudar as possíveis relações entre os Sistema Nervoso Autonômico e a Cognição, tão comumente relatadas em doenças neurodegenerativas, agora dentro do universo do tratamento oncológico, especificamente em mulheres pós-tratamento de câncer de mama.

Há estudos na literatura que propõem uma associação entre disfunções cognitivas e autonômicas, decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo para o Sistema Nervoso Central. Todavia, a quimioterapia pode alterar de forma simultânea as funções cognitivas, autonômicas e cardíacas, que se inter-relacionam e levam a um ciclo vicioso com agravamento de efeitos colaterais que podem acompanhar essas mulheres por anos.

Partindo-se dessa premissa e do fato de que tais comprometimentos possam afetar não apenas a saúde física, mas também aspectos emocionais, psíquicos e sociais desse grupo, o projeto de pesquisa também pretende averiguar o impacto da prática de exercícios físicos para atenuação e até mesmo prevenção desse efeito colateral, agindo como terapia complementar ao tratamento de câncer.

Muito se sabe do potencial efetivo dos exercícios físicos e seu impacto reduzindo o déficit cognitivo e minimizando a disfunção autonômica em doenças de caráter neurodegenerativo e de indivíduos em geral. Porém, no caso específico de sobreviventes de câncer de mama, tal proposta ainda é genuína, porém promissora. Para tanto, a formação de redes de colaborações é fundamental e para seu desenvolvimento. Nesse sentido, o projeto conta com uma parceria entre a Escola de Educação Física e Esportes da USP, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e da Faculdade de Medicina da USP que, unindo forças, pretendem ofertar à comunidade científica e à sociedade como um todo, um trabalho transformador, cercado pelo zelo e responsabilidade sociais.


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