Prevenção e redução de resíduos sólidos da Rodovia BR 116/SP-PR com foco nos usuários

Por Rodrigo Tadeu Oliveira Ribeiro, mestrando, e Ednilson Viana, professor do programa de mestrado profissional Ambiente, Saúde e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP

 24/02/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 26/02/2023 as 19:34
Rodrigo Tadeu Oliveira Ribeiro – Foto: Arquivo pessoal
Ednilson Viana – Foto: Arquivo pessoal

 

As rodovias foram e são fundamentais para alavancar o desenvolvimento da economia. Este transporte no Brasil é responsável pela mobilidade de 65% da carga e 95% dos passageiros. Podem ser administradas pelo setor público ou privado (concessionárias).

As rodovias impactam significativamente o meio ambiente nas fases de instalação e operação, afetando o meio físico, biótipo e antrópico. Após sua implantação, a rodovia será um novo elemento fixo do ambiente, operando por um período indefinido, exigindo da natureza um longo tempo para se readaptar à rodovia.

Os impactos ambientais negativos possuem pesos diferentes na instalação e operação da estrada. Na construção o impacto é mais “radical”, instaladas em áreas verdes pouco acessadas pelo homem, causando uma mudança brusca em um ambiente “virgem”. Na fase de operação da rodovia, o ambiente já está impactado, porém seu funcionamento é uma fonte de poluição, gerando mais degradações ambientais. Ou seja, enquanto a rodovia funcionar, vai causar impacto ambiental.

As principais degradações ambientais na fase de operação da rodovia são: atropelamento de fauna, poluição do solo, água, ar e sonora, aumento da vegetação invasora, favorecimento da caça predatória, incêndios e o descarte inadequado de resíduos sólidos (RS) dos usuários.

O descarte irregular de resíduos chamou a atenção do analista ambiental da rodovia BR 116/SP-PR durante as atividades de vistoria ambiental na Serra do Cafezal, no município de Miracatu (SP), localizado no bioma da Mata Atlântica, onde se depara com diversos tipos de resíduos degradando o ecossistema. Compostos de garrafas plásticas com urina, fraldas descartáveis, embalagens de alimentos e bebidas, restos de pneus, embalagens de óleos automotivos, restos de veículos acidentados, restos de cargas e sinalização danificada. Estes detritos não são coletados pela equipe de conserva, pois devido às intempéries são carreados para fora da faixa de domínio da rodovia ou vão parar sob pontes e viadutos.

Mesmo com o esforço da concessionária que gerencia a Rodovia BR 116/SP-PR em manter a estrada limpa, coletando, rastreando e destinando os RS, é como se enxugasse gelo. A rodovia recebe poluição de resíduos 24h/dia. O ato dos usuários lançarem seus RS pela janela durante a viagem percebe-se que é uma atitude habitual nas estradas brasileiras, mesmo que existam outras maneiras mais adequadas e de fácil acesso disponíveis, como acondicioná-los nos saquinhos de lixo no interior do veículo, ou descartá-los na lixeira da próxima parada da viagem. O descarte irregular pode parecer um ato banal, afinal é só um lixo lançado na estrada, mas o resíduo não coletado se acumula e não desaparece; ele vai parar em algum lugar, obstruindo drenagens, contaminando o solo, poluindo florestas, intoxicando animais, transmitindo doenças, alcançando os rios e mares, levando longos anos para se decompor. Este problema motivou o estudo intitulado Prevenção e Redução de Resíduos Sólidos da Rodovia BR 116/SP-PR com Foco em Usuários, tema da dissertação do mestrando Rodrigo Tadeu Ribeiro, aluno do Programa de Mestrado Profissional Ambiente, Saúde e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP, orientado pelo professor Ednilson Viana.

Ribeiro atua como analista ambiental em empresa terceirizada da concessionária, responsável pela Supervisão Ambiental da Rodovia BR 116/SP-PR. A referida rodovia é concessionada desde 2008, possui 401,6 km, ligando as capitais São Paulo/SP e Curitiba/PR, passando por 17 municípios, cruzando 56 Áreas de Preservação Permanente e cinco Unidades de Conservação.

O estudo tem como objetivo principal propor mecanismos que possibilitem a prevenção e redução de RS gerados pelos usuários na Rodovia BR 116/SP-PR. Para alcançar a meta, envolverá um conjunto de etapas, algumas estão abaixo:

• Mapa de Interesse Ambiental: fotos com coordenadas geográficas construirão um mapeamento da rodovia com os pontos viciados de resíduos. Ademais, há indicadores de Sensibilidade Ambiental, através da indicação de Áreas de Preservação Permanente, Unidades de Conservação, mananciais, postos de serviço e abastecimento, comércios, pontes, viadutos e presença de lindeiros. O mapa auxiliará na determinação das áreas prioritárias de limpeza, locais para proteção, identificação de padrões para eliminação dos pontos viciados e evitar a criação de novos;

• Entrevista com usuários: motoristas que participam de campanhas realizadas pela concessionária serão entrevistados com perguntas sociodemográficas, trajeto, gestão de resíduos e sugestões. O objetivo é tentar entender o lado do usuário e suas motivações para descartar os RS na estrada;

• Educação Ambiental (EA): estudo das ferramentas da EA voltada à prevenção de resíduos, para elaboração de instrumentos de Comunicação ao Usuário.

Os resultados do estudo serão apresentados através do Guia Infográfico de Prevenção e Redução de RS para Usuários e Gestores da Rodovia e Estradas de Rodagem Semelhantes, sendo este guia o Produto Técnico Tecnológico (PTT), etapa obrigatória para a conclusão do mestrado profissional:

O guia é dividido em duas seções, uma voltada ao Usuário da Estrada e a segunda direcionada aos Gestores da Concessionária. A primeira tem o objetivo de conscientizar os usuários da rodovia sobre a nocividade ambiental que é causada pelo descarte irregular de RS na rodovia durante a viagem, conduzindo-os para meios mais sustentáveis. A segunda seção do guia tem o objetivo de melhorar a atual gestão de resíduos da rodovia, reduzindo o volume de RS dos usuários. Em ambas as seções, os gestores da concessionária são os responsáveis pela tomada de decisão do guia.

O formato em infográfico objetiva a leitura rápida e fácil do conteúdo. O guia é dividido para usuários e gestores, pois a solução deve ser conjunta: sensibilizando e orientando o usuário a utilizar a estrada sem destruir o meio ambiente, concomitantemente guiando os gestores na tomada de decisões para alcançar padrões de excelência no cuidado ambiental da rodovia.

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