“Nihon Hidankyo” e o Nobel da Paz: um alerta sobre o perigo nuclear

Por Lilian Mitsuko Yamamoto, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

 06/12/2024 - Publicado há 1 mês
Lilian Mitsuko Yamamoto – Foto: Arquivo pessoal

No dia 11 de outubro, a organização Nihon gensuibaku higaisha dantai kyōgikai (日本原水爆被害者団体協議会, Confederação Japonesa de Organizações das Vítimas das Bombas Atômica e de Hidrogênio), abreviada como Hindakyo (日本被団協), recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2024 por seu sólido trabalho em prol da eliminação das armas nucleares, através da divulgação sobre as consequências da bomba na vida dos hibakusha (vítimas das bombas). Foi fundada em 10 de agosto de 1956 em resposta à censura de quase dez anos imposta pelas Forças de Ocupação dos Estados Unidos, que vetavam qualquer divulgação sobre as consequências do lançamento das bombas atômicas.

Desde então, a organização tem realizado pesquisa e divulgação sobre o tema por meio de publicações e exposições, além de participar de conferências internacionais de promoção da paz. Embora tenham se passado quase 80 anos do lançamento das bombas de Hiroshima e Nagasaki, os hibakusha e seus descendentes ainda convivem com diversos desafios. Além dos ferimentos das explosões, os sobreviventes continuam enfrentando problemas de saúde causados pela exposição à radiação, incluindo câncer, doenças cardiovasculares, problemas reprodutivos e trauma psicológico. Em vista disso, as bombas condenam não somente suas vítimas imediatas, mas gerações futuras a sequelas da radiação e discriminação social.

A escolha do Comitê Norueguês do Prêmio Nobel teve como objetivo honrar os sobreviventes que, apesar do sofrimento, fizeram uso de suas experiências para promover a paz. Os testemunhos dos hibakusha também produziram a literatura genbaku (literatura da bomba atômica), de caráter testemunhal. Esta desenvolveu-se no contexto do pós-guerra, como parte da promoção do ideal de direitos humanos, partindo do pressuposto de que a conscientização sobre as atrocidades poderia evitar que elas se repetissem. A literatura dos hibakusha pode ser considerada como não ficcional, como as obras Flores de verão (1949), de Tamiki Hara, e A última mensagem de Hiroshima: o que vi e como sobrevivi à bomba atômica (2017), de Takashi Morita, que narram as suas experiências. Há também obras de teor ficcional, que se inspiram em testemunhos dos hibakusha, como Chuva negra (1965), de Masuji Ibuse.

Não é a primeira vez que o prêmio é concedido para uma organização que luta pelo desarmamento nuclear. Em 2017, a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican) também recebeu o Nobel da Paz como reconhecimento dos seus esforços para a criação do Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares (Tpan). Em 1974, o prêmio foi concedido ao ex-primeiro ministro japonês Eisaku Sato por ter sido responsável pela adesão do Japão ao Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares (TNP). Tendo em vista que os hibakusha estão em idade avançada, o prêmio serve como uma clara mensagem para que as suas memórias alertem as futuras gerações sobre os perigos do armamento nuclear.

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