Faculdade de Medicina da USP: um dos maiores centros de pesquisas médico-científicas do País

Por Eloisa Silva Dutra de Oliveira Bonfá, Paulo Manuel Pego Fernandes e Roger Chammas, respectivamente diretor, vice-diretor e ex-vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)

 03/04/2024 - Publicado há 8 meses     Atualizado: 04/04/2024 às 12:38

Eloisa Silva Dutra de Oliveira Bonfá Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Paulo Manuel Pego Fernandes – Foto: Currículo Lattes
Roger Chammas – Foto: Reprodução/IEA-USP
AFaculdade de Medicina da USP (FMUSP) tem mais de um século de excelência no ensino e pesquisa e é reconhecida pelo seu pioneirismo. Ela foi implantada em 1913 e integrada à USP em 1934 com a missão de oferecer ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa, cultura e serviços à comunidade, dentro dos mais elevados preceitos éticos e morais.

A formação de profissionais da saúde depende da interação da instituição de ensino com o sistema de saúde, representado pelas unidades básicas de saúde, hospitais-escola secundários e hospitais-escola terciários. No caso da FMUSP, a unidade está integrada com seu hospital-escola terciário, o Hospital das Clínicas da FMUSP, o Centro de Saúde Escola Butantã e diversas unidades básicas de saúde na região oeste de São Paulo e o Hospital Universitário (HU).

Assim, quando pensamos na Faculdade de Medicina, pensamos, na realidade, em um sistema acadêmico de saúde, que chamamos de Sistema FMUSP-HC. A FMUSP é mantida pela USP, e o HCFMUSP, uma entidade associada à USP, é uma autarquia especial da Secretaria Estadual de Saúde. De fato, cabe aos professores titulares da USP a direção de divisões do HCFMUSP, o que permite o indissociável alinhamento da assistência à saúde da população paulistana às políticas de ensino, pesquisa e inovação da FMUSP. O HCFMUSP é o maior hospital da América Latina, anualmente, são mais de um milhão de consultas ambulatoriais, mais de 232 mil atendimentos de urgências e emergências e mais de 50 mil cirurgias.

Num período mais recente, o Sistema FMUSP-HC foi protagonista no enfrentamento da pandemia de covid-19 atendendo a uma fração significativa dos casos mais graves da doença. Toda nossa comunidade esteve muito envolvida em projetos que estudaram a evolução do vírus; como a infecção causava doença, buscando entender por que alguns indivíduos eram assintomáticos enquanto outros tinham formas grave e até mesmo fatais da doença; como os diferentes indivíduos montavam respostas de proteção quanto ao vírus; quais os grupos de pacientes mais sensíveis, e porquê; quais as melhores formas de tratar os pacientes e como evitar a infecção, por meio do teste clínico de vacinas, em parceria, por exemplo, com o Instituto Butantan.

Nossa comunidade estava pronta para responder ao desafio que a nova infecção representou, gerando importantes contribuições científicas e implementando na prática da saúde pública os melhores protocolos de manejo dos pacientes. A FMUSP esteve diretamente envolvida no treinamento das equipes que foram responsáveis pelo manejo dos pacientes críticos em diferentes hospitais de São Paulo e do restante do País.

Oportunizou-se a rápida transformação digital, que permitiu fazer o treinamento remoto de muitas equipes médicas no acompanhamento dos pacientes críticos em programas federais. Em vários projetos, continuamos a acompanhar os pacientes que se restabeleceram da infecção por covid-19, com o objetivo de entender quais as consequências a longo prazo da infecção, e como tratar essas consequências promovendo qualidade de vida para os pacientes.

O dia a dia do sistema FMUSP-HC é de relação direta com a sociedade. No campus Clínicas da USP, transitam mais de 20 mil pessoas todos os dias. Consultas ambulatoriais, acompanhamento de pacientes internados, orientação de pacientes e familiares, cirurgias, exames diagnósticos são alguns exemplos das atividades coordenadas pelos nossos docentes e nas quais nossos alunos são treinados ao longo de sua formação. Prestamos assistência com ensino, assistência com pesquisa e assistência com inovação, cumprindo assim as missões de um hospital-escola completamente integrado à universidade.

Dados e informações são gerados e acessíveis cada vez mais rapidamente. Nossas atividades precisam acompanhar a velocidade de transformação do conhecimento na área da saúde, formando usuários críticos dessas informações. Além disso, precisamos capacitar a nova geração de pesquisadores, instrumentalizando-os para trabalhar com ciência dos dados.

Essa nova realidade traz uma camada de complexidade também para a relação com os pacientes, e resgata o papel de educador dos vários profissionais da saúde, que precisarão ter meios de mitigar as consequências da desinformação, por meio de uma comunicação mais eficiente com os pacientes, que devem ser os protagonistas do processo de controle e tratamento de suas condições de saúde. Ainda, o trabalho em equipes multiprofissionais será uma das habilidades requeridas para os profissionais que formamos.

O Sistema FMUSP-HC é um rico campo de formação para múltiplos profissionais, que não somente os “profissionais da saúde”. Engenheiros, físicos, administradores, economistas, advogados, entre outros, têm oportunidades de atuação na área da saúde. A integração da FMUSP com outras unidades da USP é uma forma simples de criar oportunidades para inovação.

Em 2022, iniciamos o curso de Física Médica, o quinto curso de graduação da FMUSP, esse em parceria com o Instituto de Física (IF) da USP. Será interessante ver alunos de graduação com o olhar de físicos circulando pelos corredores do hospital, buscando resolver problemas numa óptica diferente daquela que usamos no dia a dia. Fora o curso de Física Médica, a FMUSP oferece ainda graduação em Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.

Além disso, foi criado o INOVA-HC, instituto de inovação que atua na aceleração de startups da área da saúde, promovendo projetos de pesquisa que serão úteis, por exemplo, no teste de protótipos, novos equipamentos e novos algoritmos de processamento e análise de dados da saúde.

A integração de dados clínicos de grupos de pacientes com uma dada condição de saúde com exames de laboratório, incluindo dados moleculares (por exemplo, genômica), ancorados em variáveis étnicas tem grande potencial de aplicação em modelos preditivos, usando por exemplo algoritmos de inteligência artificial. Uma das competências do Sistema FMUSP-HC é a pesquisa clínica.

A FMUSP é um dos maiores centros de pesquisas médico-científicas do País, com 66 laboratórios de investigação médica, os LIMs, com 230 grupos de pesquisa e uma média de 3.600 artigos científicos publicados por ano.

Temos a oportunidade de propor e executar diversos protocolos clínicos que respondam a questões de efetividade de novos medicamentos em populações com a diversidade étnica do brasileiro, um aspecto crítico para a replicação de dados de estudos clínicos feitos em países com grande homogeneidade étnica na vida real.

Com o objetivo de estimular ainda mais a realização de pesquisas clínicas no Sistema FMUSP-HC, em parceria com a reitoria da USP, iniciaremos a construção de um novo instituto do Hospital das Clínicas dedicado exclusivamente à pesquisa clínica em abril de 2024, quando o HCFMUSP estará completando 80 anos de sua fundação.

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