Neste período, mais de 800 profissionais trabalharam sob condições sanitárias bastante restritas, para restaurar e modernizar o edifício histórico, criar um novo subsolo, escavado para dar lugar ao auditório, salas de aula e ateliês, bilheteria, acolhimento, sala de recepção e sala de exposições temporárias, além do empenho das equipes coordenadas pelo museu na preparação de mais de quatro mil peças do acervo para a montagem das exposições de longa duração.
Mesmo com a pandemia, procurou-se manter o Museu do Ipiranga próximo ao público por meio de várias estratégias. Ficou à vista de todos a transformação pela qual ia passando o museu com a montagem do Observatório da Obra, uma estrutura temporária que, no primeiro andar, trazia informações sobre o projeto da renovação do museu e, no segundo andar, permitia ao visitante ver com seus próprios olhos o grande canteiro de obras que se tornou a instituição. Devido às restrições sanitárias, a estrutura montada em 2020 só pôde ser acessada pelos visitantes de junho a dezembro de 2021.
Outra iniciativa foi a série de vídeos documentais Diário do novo Museu do Ipiranga, com entrevistas dos profissionais envolvidos e registros locais, disponíveis no YouTube do Museu. O Festival Tapume trouxe artistas de rua do Brasil inteiro para pintar murais nas placas de proteção da obra ao longo da Avenida Nazaré em duas ocasiões, em janeiro de 2020 e junho de 2021. Maratonas de edição de verbetes para a Wikipedia, o lançamento de um aplicativo com a visita virtual e um game ampliaram as fronteiras tecnológicas e geográficas do museu.
A união de esforços de várias equipes envolvidas permitiu a emocionante reabertura do Museu do Ipiranga no dia 7 de setembro de 2022, para comemorar o Bicentenário da Independência do Brasil. Com um projeto expográfico de recontextualização histórica, que lançou novos olhares a esse fato essencial para o País, o museu trouxe para o centro do debate a população anônima que ajudou a construir não só o museu, mas a cidade de São Paulo. Nada disso seria possível sem o comprometimento e o profissionalismo das equipes envolvidas em todos os segmentos da obra e da museografia, às quais agradecemos mais uma vez.
Se não bastasse uma obra dessa magnitude, enfrentou-se essa situação também na outra sede do Museu Paulista: o sobrado histórico que abriga o Museu Republicano Convenção de Itu precisou fechar para adequações de segurança no início de 2020. Foram quase três anos de trabalho dentro das normas de conservação do patrimônio, perpassando o período de pandemia, concluído em maio de 2023, com a reabertura do museu ao público justamente para a celebração de seu centenário.
Reabrir dois museus não implica só a adaptação de seus espaços físicos, mas também a criação de uma programação instigante e de uma estrutura administrativa sustentável, que permita sua realização. Dessa forma, além das 11 exposições de longa duração divididas em 49 salas do edifício histórico, o Museu do Ipiranga deu início, em 25 de janeiro de 2023, ao ciclo de exposições temporárias, com Memórias da Independência. E em 11 de junho de 2024 foi inaugurada a sua segunda exposição temporária, Sentar, guardar, dormir: Museu da Casa Brasileira e Museu Paulista em diálogo, em cartaz até 29 de setembro. Já estão no planejamento outras exposições que ocuparão essa nova sala, no Piso Jardim, até 2026, cronograma legado à próxima gestão.
Em paralelo, o Museu Republicano Convenção de Itu reabriu em maio de 2023, também trazendo exposições especiais, como a atual Tarsila depois de Tarsila, em cartaz até 30 de junho de 2025. Além do calendário expositivo, ambas as instituições promovem apresentações musicais, aulas e cursos (de extensão universitária e para o público em geral), palestras e atividades recreativas para crianças, jovens e adultos. Embasando essa agenda que dinamiza e amplia os públicos, estão as pesquisas que mestrandos, doutorandos e pesquisadores independentes realizam nos acervos do Museu Paulista, jogando luz a aspectos da história da cidade e do País.
Para que tudo isso fosse (e siga sendo) possível, foi criada em 2022 a Fundação de Apoio ao Museu Paulista (FAAMP), para ajudar o museu a ampliar seu impacto social por meio de uma gestão eficiente e captação de recursos. Assim, o Museu Paulista garante a sustentabilidade e a possibilidade de planejamento prévio de suas atividades tanto na capital quanto no interior, integrando-se de forma participativa no cotidiano – e na história – da população do Estado de São Paulo.
Os recordes de público atestam o acerto da trilha percorrida nesses quatro anos. Em 20 de abril de 2024, o Museu do Ipiranga chegou ao primeiro milhão de visitantes desde a reabertura, em 2022. E o Museu Republicano recebeu quase 60 mil visitantes desde sua reabertura até maio deste ano. É a confirmação de que seguimos o caminho correto, permitindo tanto a manutenção das duas sedes expositivas como protagonistas da história e da conservação da cultura material brasileira, quanto possibilitando a continuidade dessa realização durante os próximos quatro anos – e, certamente, por muitos outros anos mais. Vale lembrar a longevidade do Museu Paulista, que comemorará 130 anos de sua abertura ao público no edifício do Museu do Ipiranga em 2025.
A diretoria do Museu Paulista contou, nesses quatro anos, com a ajuda de muitas pessoas e instituições. Nossos agradecimentos a todos, inclusive às gestões atual e anterior da Reitoria, que não mediram esforços para que os projetos do Museu Paulista lograssem sucesso.
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