A pandemia e os avanços no ensino de engenharia

Por Humberto Felipe da Silva, professor da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP

 04/02/2022 - Publicado há 2 anos
Humberto Felipe da Silva – Foto: Arquivo pessoal

 

Como você reagiria se o mundo de repente congelasse no tempo como acontece em grandes thrillers de Hollywood? Se um grande impacto provocasse uma situação caótica de magnitude global? Muita gente enfrentou a pandemia com naturalidade adaptando-se às dificuldades do distanciamento social. Muitos outros, e não foram poucos, tiveram dificuldades para se adaptar. Entretanto, mesmo com boa parte do mundo ainda atônita sem entender como agir na pandemia, a USP, com sua enorme capacidade de transformação, tomou decisões emergentes para dar continuidade às suas atividades.

Nossa Universidade conseguiu responder rapidamente aos desafios aparentemente intransponíveis. A comunidade USP não apenas buscou se reinventar, como também desenvolveu esforços e passou a repensar o papel do docente no processo de aprendizagem. Simultaneamente, buscou-se promover o envolvimento discente em uma situação totalmente inusitada e anômala. Foram oferecidos acesso à internet para os que tiveram dificuldades, acolhimento e compreensão dos professores e da administração para os obstáculos e dificuldades. Ou seja, fez-se de um tudo para que os alunos não se sentissem desemparados.

Em minhas aulas sempre busco mostrar para os alunos uma grande verdade verbalizada intuitivamente por meu pai: “Toda crise é momento de grandes oportunidades” (princípio da gestão competitiva). Foi isto que fizemos, mostra na prática que ameaças são oportunidades para saltar obstáculos à frente. Assim, se, por um lado, a pandemia trouxe muitas dificuldades e desafios para os professores e para que a Universidade mantivesse um ensino de qualidade e continuasse a atender seus alunos, por outro, abriu novas oportunidades que concorrem para melhorar o desenvolvimento de competências importantes para o mercado de trabalho. Durante este ano foram estabelecidas diversas ações dentro das iniciativas sempre presentes da Pró-Reitoria de Graduação da USP.

O Consórcio Acadêmico para Excelência do Ensino de Graduação (CAEG) foi um desses mecanismos por meio do qual as coordenações de Graduação das três escolas de engenharia vislumbraram uma excelente oportunidade para aplicar uma antiga aspiração, promover a aproximação entre alunos e professores. A integração das escolas de engenharia da USP foi estabelecida e robustecida nestes dois anos visando à excelência no ensino de engenharia. Criou-se um projeto envolvendo as três escolas de engenharia da USP, Escola de Engenharia de Lorena (EEL), Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e Escola Politécnica (Poli), com participação de um número grande de alunos e professores em atividades diretamente relacionadas ao ensino de graduação.

Como piloto do projeto, considerando a experiência pregressa dos docentes envolvidos na proposta, escolheu-se os temas Inovação Empreendedora e Eletrônica, Controle e Automação. O tema Inovação Empreendedora foi abordado no primeiro semestre de 2021 na disciplina Projetos Especiais em Gestão da Inovação e no segundo, na disciplina Oficina de Inovação, ambas com projetos desenvolvidos em parceria com empresas. Nestas disciplinas os alunos tiveram contato direto e foco em problemas reais relatados e discutidos por lideranças das empresas participantes.

O tema Eletrônica, Controle e Automação apresenta desafios em vários âmbitos com diferentes níveis de profundidade e número significativo de alunos, explorado nas três escolas de engenharia da USP com focos distintos. Os modelos de ensino e aprendizagem nos temas propostos estão permitindo mudar o paradigma de oferta de disciplinas para os cursos de engenharia das três unidades envolvidas neste projeto com o compartilhamento de experiências técnicas e pedagógicas, com uma sinergia impensável antes da pandemia.

Além disto, foram fortalecidos laboratórios makers com a aquisição de equipamentos didáticos, que passaram a ser consorciados e compartilhados entre as unidades. Professores da EEL, da EESC e da Poli tiveram participação relevante e de liderança nestes projetos, que contaram com a integração de vários alunos de nossas escolas abrindo-lhes oportunidades de estabelecer conexões com estudantes e professores de outras escolas da USP. Ademais, a parceria com empresas privadas nas disciplinas, compartilhando a ribalta com a comunidade universitária, trouxe para o aluno a vivência com o mundo das organizações, opção imprescindível para sua formação e desenvolvimento de skills técnicas e transferíveis.

Deste consórcio já decorreram várias outras iniciativas, principalmente de consorciamento dos diferentes laboratórios em cidades diferentes. Para isto, se exige não apenas hardware adequado, mas uma cultura aberta e antenada com as novas tendências acadêmicas. Agora que se prenuncia um provável final desta famigerada pandemia, pelo menos assim esperamos, o desafio é dar continuidade e acelerar o processo de integração das escolas, para o que as coordenações de graduação das escolas de engenharia já estão se mobilizando. No fim do ano foi realizada uma reunião de avaliação das atividades realizadas em 2021, bem como foram estabelecidas algumas diretrizes para dar continuidade aos projetos existentes e para a realização de novos projetos.

A verdade é que, se a pandemia conseguiu unificar este time, a coesão de propósitos e a vontade de manter a excelência no ensino de engenharia trarão novos desafios a serem trilhados juntos.


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