O surgimento da pandemia catalisou, contudo, um movimento que parecia ser muito minoritário, embora protagonizado por países com peso global. A pandemia deu contexto e justificativa para reações protecionistas e acusatórias da ineficácia, quando não de cumplicidade, de organismos internacionais responsáveis pela promoção de saúde e vigilância sanitária. A guerra travada pela aquisição de equipamentos de proteção individual, aparelhos destinados à terapia intensiva e medicamentos tomaram parte desse quadro.
Não existe script, protocolos ou mecanismos padrão para o desconhecido. E a pandemia global revelou isso da forma mais dura possível. As respostas unilaterais encontram, aqui e ali, respaldo e justificativa política. Se a internacionalização é a fonte de todos os males, a nacionalização é correta prescrição para todos eles. O que aparenta ser um argumento razoável, mostra-se, rapidamente, uma incongruência lógica. Não há resposta nacional para um problema de ordem global. Não há solução unilateral para um fenômeno que demanda um nível de coordenação como jamais se viu.
Em um contexto desse porte e urgência, destaca-se a importância do que se conhece, no mundo acadêmico, como diplomacia científica. Por diplomacia científica entende-se o conjunto de ações que conectam diplomacia e ciência. Diplomatas atuam como agentes promotores e facilitadores para colocar cientistas e empresas inovadoras em contato. Cientistas atuam para aproximar países em busca de soluções multinacionais.
O prestígio da ciência brasileira tem sido colocado a serviço da busca de bens globais, como a descoberta de vacinas, tecnologia de diagnóstico e procedimentos terapêuticos. O ecossistema de ciência e tecnologia do Estado de São Paulo, que congrega instituições de fomento como a Fapesp, empresas e universidade públicas estaduais e federais, é um exemplo maduro do que se convencionou chamar de tríplice hélice da inovação.
A Innovation and Science Diplomacy School (InnScid SP) surgiu, em 2019, justamente para formação de profissionais e pesquisadores no campo, com intercâmbio de experiências internacionais. A iniciativa foi fruto de uma parceria entre o Instituto de Relações Internacionais (IRI) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) com o apoio financeiro da Fapesp. A competição para suas 80 vagas contou com a participação de mais de mil interessados de 122 países.
Além de rede internacional de pesquisadores formada durante a escola, crescentemente atuante, a iniciativa produziu um framework (São Paulo Framework of Innovation Diplomacy) sobre diplomacia da inovação que passou a ser utilizado para implementação de política em instituições de diversos países.
A segunda edição da InnScid SP voltará a acontecer este ano, agora em formato virtual, na primeira semana de agosto, entre os dias 3 e 7. A programação e outras informações podem ser encontradas no site da escola (www.2020.innscidsp.com). A representação da Unesco no Brasil será uma das instituições apoiadores da iniciativa.
Como bem pontua o professor Carlos Henrique de Britto Cruz, ex-diretor científico da Fapesp, ciência não faz milagres. Mas contribui decisivamente para encontrar respostas aos mais complexos problemas da humanidade. Uma vez mais, a Universidade de São Paulo apoia a realização dessa reunião internacional, que se ocupa em fomentar e discutir o papel da diplomacia científica na busca de bens coletivos globais que, por definição, não encontram assento em posturas unilaterais.