Airbnb é a sigla da expressão em inglês airbed and breakfast, cuja tradução em português, ao pé da letra, é “colchão de ar e café da manhã”. Também é o nome do site que atua como um espaço virtual em que as pessoas alugam a própria residência para desconhecidos – sem ser uma imobiliária, estabelecendo uma relação de vínculo social, de ligação entre pessoas e propondo modos de vida e costumes inovadores nesse tipo de negócio.
Para algumas pessoas, pode soar estranho alugar a própria casa, sair para trabalhar, viajar e deixá-la com desconhecidos, mas os criadores do site Airbnb, baseados na experiência de terem alugado o próprio sofá da sala e partilharem o uso de sua cozinha, e com sucesso, investiram, sem muitas pretensões, em um mercado que acabou por crescer dia a dia e, depois de oito anos, o Airbnb, disponível também em aplicativo para smartphone, espalhou-por 190 países, cujos usuários passam de 60 milhões de pessoas, conta-nos Ramon Bezerra Costa em seu artigo na revista Signos do Consumo. O artigo é uma reflexão sobre como funcionam “as realidades nas quais vivem os sujeitos e que são a expressão de crenças e valores, perpassando diversos campos, como o econômico e a vida pessoal; evidenciando, assim, a produção de modos de vida implicada nessa experiência”.
A empresa Airbnb se assemelha a uma “vitrine” dos lugares disponíveis para aluguel e atua como intermediadora, disponibilizando “apartamentos e casas inteiras ou quartos, castelos, ilhas, cavernas, iglus, casas na árvore, barcos”. Alguns dos atrativos desse serviço é o preço, por vezes menor do que os albergues, e o tipo de relação da empresa com os envolvidos, pois muitos funcionários do Airbnb são também anfitriões e hóspedes que utilizam a plataforma, como atestam as palavras do autor: “O perfil dos funcionários é também o dos usuários e/ou anfitriões, ou seja, vidas pessoal e profissional estão juntas, e as características de ambas se cruzam”.
Se quem aluga pela Airbnb, praticamente, só encontra vantagens, para os funcionários e anfitriões é um pouco diferente. Os funcionários, nesse tipo de trabalho on-line, apesar da facilitação/barateamento das condições de transporte, por exemplo, trabalham o tempo todo, sem parada, visto que a vida pessoal se confunde com a profissional, em que “os sujeitos vivem, alterando suas relações com o espaço e o tempo, com a família, o lazer e mesmo sua visão de mundo. Esse modo de funcionamento é característico do capitalismo”. E, em relação aos anfitriões, o autor questiona: “de alguma maneira, os anfitriões, que em certos momentos também podem ser hóspedes, não fariam parte da empresa?[…] já que a empresa está milionária e os anfitriões, no máximo, incrementam sua renda?“.
O Airbnb é sucesso mundial porque traz a inovação no mundo dos negócios desse gênero – “as relações criadas que sustentam esse modelo, caracterizadas por experiências que evidenciam a possibilidade dos sujeitos confiarem uns nos outros e se vincularem”. O autor conclui afirmando que a proposta de seu trabalho não é fornecer conclusões sobre o assunto, mas sugerir caminhos de discussão sobre esse fenômeno bastante expressivo que, certamente, contribuirão para o campo dos estudos da comunicação e do consumo.
Ramon Bezerra Costa – Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. Mestre e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UFRJ. ramonbzc@gmail.com
COSTA, Ramon Bezerra. Comunicação e consumo: sobre a produção de modos de vida no airbnb. Revista Signos do Consumo, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 27-35, jan./jun. 2017. ISSN: 1984-4867. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1984-5057.v9i1p27-35. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/signosdoconsumo/article/view/114718>. Acesso em: 6 jul. 2017.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP