Imigração e direitos humanos são o foco de coletivo de alunos da USP

Projeto Educar para o Mundo trabalha para o empoderamento e vida digna dos imigrantes

 08/03/2017 - Publicado há 7 anos
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Desde 2009 o coletivo Educar para o Mundo trabalha com o empoderamento de imigrantes na cidade de São Paulo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Desde 2009, o coletivo Educar para o Mundo trabalha com o empoderamento de imigrantes que vivem em São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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A cidade de São Paulo possui quase 45% da sua população adulta composta de pessoas vindas de outros Estados ou países, segundo último levantamento do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) feito em 2011. Prover uma vida digna e combater a xenofobia é uma das propostas de um coletivo de extensão universitária do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, Educar para o Mundo, que decidiu trabalhar com empoderamento de imigrantes.

Composto, atualmente, de estudantes do curso de Relações Internacionais, o coletivo surgiu como um projeto da professora do instituto Deisy Ventura, em 2009. Porém, desde o desligamento dela da atividade, os alunos se autodenominam um coletivo de extensão e não mais um projeto. “O Educar não tem um começo, meio e fim, como um projeto. Vamos continuar existindo enquanto houver demanda para o trabalho do Educar”, explica Natália Araújo, estudante de pós-graduação do IRI.

O Educar para o Mundo, ou EPM, surgiu em um contexto em que o País estava recebendo um número elevado de imigrantes, em sua maioria latino-americanos, porém sem muitos órgãos para apoiá-los. O grupo viu o cenário da imigração em São Paulo se transformar ao longo desses oito anos. Se no início do projeto a população era majoritariamente de latino-americanos, aos poucos, os refugiados africanos e, posteriormente, os sírios começaram a chegar em grande quantidade. Dessa forma, o coletivo viu a necessidade de se reinventar. 

A ideia inicial do EPM era trabalhar em escolas com grande número de estudantes imigrantes. O grupo começou suas ações na Escola Municipal Infante Dom Henrique, no bairro Canindé, onde havia diversos alunos imigrantes ou filhos de imigrantes. Porém, a necessidade de atingir outros locais levou o coletivo a sair da escola e expandir seu foco.

No ano passado, o coletivo atuou principalmente em oficinas, nas quais se abordava os trâmites legais de imigração (como documentação), mercado de trabalho brasileiro, entre outros temas; também foram realizadas atividades no Fórum Social Mundial das Migrações, além da participação, em parceria com o Abraço Cultural, no Dia Mundial das Boas Ações.

Sair dos muros da Universidade

A USP está apoiada no tripé ensino, pesquisa e extensão. O objetivo da extensão universitária é levar o que é produzido na Universidade à comunidade externa. Se encaixam nesse quesito diversos projetos sociais da USP, como o Redigir, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), o Poli Social, da Escola Politécnica (Poli), e também o Educar para o Mundo.
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Moisés Rodrigues, Amanda Sayuri, Natália Araújo e Rafaela Viana, integrantes do EPM - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Moisés Rodrigues, Amanda Sayuri, Natália Araújo e Rafaela Viana, integrantes do EPM – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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No momento, o coletivo afirma enfrentar dificuldades, por não estarem recebendo bolsas. Para dar continuidade aos trabalhos, o grupo tem utilizado recursos próprios e realizado campanhas de arrecadação.

Participar de um projeto de extensão, lembram, não conta como crédito em disciplinas. A estudante e integrante do coletivo Rafaela Viana dos Santos argumenta que esse é um dos fatores que desestimulam a extensão universitária. “Nós participamos porque nos identificamos com a causa e não porque existe alguma equivalência”, conta.

“Temos um papel importante porque são os alunos os mais próximos de ter um contato fora da Universidade. Tentar fazer um projeto além dos muros e não ter incentivo faz parecer que estamos sozinhos”, afirma Moisés Rodrigues, outro integrante do coletivo.

Novos rumos

No dia 11 de março, das 13 às 17 horas, o Educar para o Mundo se reunirá para decidir o futuro de seus trabalhos durante o evento Para onde vamos? Migrações em São Paulo: rumos e desafios, no Museu da Imigração, localizado na Rua Visconde de Parnaíba, 1.316, na capital paulista. A intenção é que membros, ex-membros, pessoas ligadas à área de imigração e quem mais tiver interesse pelo tema analisem o atual cenário da imigração na cidade de São Paulo e desta forma encontrem novas maneiras de o EPM atuar.

Natália conta que o coletivo encerrou o seu primeiro ciclo. Na visão da estudante, o cenário migratório brasileiro mudou e tende a mudar ainda mais com a aprovação da Nova Lei de Imigração, e esse evento será fundamental para definir um novo ciclo de atuação frente a esse cenário. Para isso, a participação e opinião de imigrantes serão essenciais.

Diferentemente de 2009, quando o EPM surgiu, hoje já existem diversos órgãos de apoio e acolhida aos imigrantes. O Educar passou de protagonista a coadjuvante nesse cenário e, segundo Natália, esse era o objetivo do primeiro ciclo. “Uma das coisas mais bonitas da extensão é que nós trabalhamos almejando o dia em que não seremos mais necessários. Temos o objetivo de que um dia não precise mais essa interlocução com os universitários para tocar diversas pautas dos imigrantes”, afirma.

Qualquer pessoa pode participar do coletivo, não apenas alunos de Relações Internacionais ou comunidade USP – basta ter interesse pelo tema e comprometimento. O grupo não possui uma hierarquia de gestão, eles se denominam uma gestão horizontal, em que todos têm seu espaço de fala. “Cada integrante tem uma importância única e contribui muito para o nosso coletivo”, afirma Rafaela.

Quem tem interesse em participar do Educar para o Mundo pode assistir a uma plenária, que acontece toda quinta-feira, às 17 horas, no Instituto de Relações Internacionais, ou mandar uma mensagem pelo e-mail epmguima@gmail.com ou pela página do Facebook.

 


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