Livro traz entrevistas sobre o cinema e o audiovisual em São Paulo

“Depois da Última Sessão de Cinema” dá destaque para a Spcine, empresa ligada à Prefeitura da capital

 26/08/2021 - Publicado há 3 anos
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Sala de exibição de uma das unidades do Centro Educacional Unificado (CEU), em São Paulo, que faz parte do circuito Spcine – Foto: Foto: Sylvia Masini/Spcine

 

“O Brasil ainda tem muitas histórias, imagens e narrativas para mostrar ao mundo e a si mesmo”, escreve o ex-secretário executivo do extinto Ministério da Cultura Alfredo Manevy na introdução do livro Depois da Última Sessão de Cinema – Spcine, Audiovisual e Democracia, que será lançado no próximo dia 31, terça-feira, às 19h30, em evento on-line. Para divulgar essas “muitas histórias”, o livro reúne 40 entrevistas com cineastas, produtores, atrizes, atores, empresários e gestores culturais. Com 424 páginas, a obra é organizada por Manevy, que é doutor pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e pelo gestor cultural Fabio Maleronka, doutorando em Sociologia da Cultura pela USP.

Alfredo Manevy – Foto: LinkedIn

O livro dá destaque para a Spcine, empresa ligada à Prefeitura de São Paulo que visa ao desenvolvimento da área de cinema e audiovisual. Na sua introdução, Manevy ressalta a importância dessa empresa para o setor: além das dezenas de filmes e documentários que já apoiou, ela presta serviços culturais à população em geral, como a oferta de salas de cinema no centro histórico de São Paulo e nas periferias, com projeções e programação de alta qualidade. As sessões que ela promoveu  atingiram 1,5 milhão de pessoas, segundo Manevy. “Quando a empresa foi criada, em 2014, uma pesquisa do Sesc apontava que 30% dos paulistanos das classes D e E  nunca tinham ido ao cinema.”

Manevy acredita que o diferencial da Spcine é justamente essa atenção maior à exibição, que a levou, inclusive, a criar um canal de streaming próprio, o Spcine Play. Como ele destaca, a empresa estimula a atividade cinematográfica na cidade, apoia festivais como a Mostra Internacional de Cinema e ainda contribui para a distribuição e a exibição das produções.

O título do livro, Depois da Última Sessão de Cinema, faz alusão ao hábito do público de conversar depois da exibição dos filmes, explica Manevy. Ao mesmo tempo, refere-se à ideia de que o cinema de certa forma “acabou”, tendo em vista as novas mídias. “Há o deslocamento do cinema para o streaming, uma mudança de linguagem.” Essa questão também chamou a atenção de Manevy, porque se trata de uma preocupação de boa parte dos entrevistados no livro, que temem pelo futuro do audiovisual, especialmente em razão da falta de regras e leis para o streaming. Para Manevy, isso “pode deixar muito frágil e dependente a produção audiovisual nacional”.

Fabio Maleronka Ferron – Foto: Reprodução

Cineastas, atrizes e professores

Entre os 40 entrevistados do livro estão cineastas como Anna Muylaert, Tata Amaral, Ugo Giorgetti e Fernando Meirelles, os professores da USP Nabil Bonduki e Rubens Rewald, a roteirista Laís Bodanzky e a atriz Alessandra Negrini.

“A Spcine pode ser um instrumento fundamental para formular uma política que garanta a sobrevivência dos cinemas de rua tradicionais da cidade”, afirma Nabil Bonduki – ex-secretário de Cultura do município de São Paulo – em sua entrevista para o livro, destacando que a pandemia de covid-19 agravou a crise em setores ligados à cultura, incluindo os cinemas de rua, que correm sério risco de fechar.

Para a produtora Débora Ianov, ex-diretora-executiva do Sindicato da Indústria do Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp) – que também dá seu depoimento ao livro –, é preciso ter mais investimentos públicos e privados no setor audiovisual, como ampliação de incentivos fiscais e mais salas de cinema. “Nossa região não pode ficar à mercê só de políticas federais. A gente tem que ter uma estruturação forte da nossa atividade”, expõe a produtora.

No livro, a cineasta e mestre em Antropologia pela USP Maíra Bühler dá detalhes de como relaciona a antropologia e o cinema em suas produções – entre elas Elevado 3.5, de 2007 -, algumas delas exibidas e debatidas no circuito Spcine. “É uma empresa audiovisual que abre seus braços para uma atuação, por assim dizer, múltipla, que se encontra com outros setores, como a educação e o direito à cidade”, disse Maíra ao Jornal da USP, a respeito da Spcine.

Em sua entrevista para o livro, a diretora Anna Muylaert conta os bastidores das gravações de Que Horas Ela Volta?, de 2015, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, onde ela quase foi proibida de gravar. “Eles não queriam que eu gravasse porque havia umas reformas e o lugar estava cheio de panos. Eu não enquadrei isso e sabia que, no final, eles iriam agradecer. De fato, acabei indo fazer um debate lá e contei essa história. Todo mundo riu”, lembra Anna em seu depoimento.

O professor Rubens Rewald, da Escola de Comunicações e Artes da USP, aborda, na sua entrevista, as circunstâncias históricas e a importância da implantação da Spcine. “A ideia do projeto da Spcine era pôr São Paulo no mapa do audiovisual contemporâneo do mundo. Estamos falando de cultura, entretenimento, arte, business, formação, educação. Hoje em dia, o audiovisual é um setor estratégico”, destaca.

Capa do livro Depois da Última Sessão de Cinema – Foto: Reprodução

Depois da Última Sessão de Cinema – Spcine, Audiovisual e Democracia, de Fabio Maleronka Ferron e Alfredo Manevy (organizadores), Editora Autonomia Literária, 424 páginas, R$ 60,00.

O livro será lançado no próximo dia 31, terça-feira, às 19h30, em evento on-line.


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